quarta-feira, fevereiro 06, 2008

NA CASA DA CRIAÇÃO: VERA SABINO




Vera Sabino


NA CASA DA CRIAÇÃO: VERA SABINO
Carmen L. Fossari

No alto do morro
Um verde plantado
Pequeno oásis
Clorofila
No desmatado espaço
Circundante
Miragem
Imagem


Um portão grande também verde
Ao muro de tijolos aparentes
É aberto
Tudo é chacra
Foz do rio nascente
Matérias que se transmutam
Bromélias me saltam a vista
Vidros em suas transparências
Revelam vários pisos
Uma casa que não tem fim penso.

Há ainda obras sendo feitas
Tijolos e argamassa
A casa como a pintura
Que realiza
De não ter fim,assim o são.

Movimento de seus seres
Que a habitam.

Horta, flores, e objetos
Muitos.
Tantos que se agrupam
Móveis antigos imponentes
São delicatessens de culturas diversas
Cimentando viagens ao mundo das
Recordações.

O pequeno oratório ao canto
Repleto de santos de cerâmica
Acima os santos grandes
Uma santaria reunida
Como pássaros
E logo um e outro armário
Madeiras formatadas
De centenário feitio
Sob suas prateleiras os objetos
Tão femininos a ornarem
Porcelanas,biscuits,e dedais
Miniaturas.
Bordadas as recordações
Nas esculturas do tempo
Que ali não ousa valsar
Apenas ele , o tempo
Penetra silencioso nas
Conchas ,o mar em representação
Alí traz as marés de espumas
Algas,tudo é oceano
Que navegam nossas mentes
De olhar em pouso sobre
Sua morada.

E ainda as paredes repletas de arte
Não só dela, a Vera de alma Sabina
Que gera estes mundos incrustados
Paralelos ao seu impar mundo
O mundo da criação pictórica.

Deixa em suas paredes
Tantas obras
Ao lado de seu santuário
Das tintas e desenhos que ali são plasmados
As telas do companheiro
O Semy Braga
Também pintor, também poeta,também
Que o amor sabe o segredo
Dos verdadeiros encontros.

Lá na casa ao alto do morro
Avistamos a Ilha de concreto
Vertical, se travestindo ao modernismo
Impensado
Meu olhar sofre o impacto
Olhar fora a cidade de pedra
e sentir meus pés
Tocando ao solo onde tudo se reparte luz.

Vejo pinturas de Semy Braga,Pléticos,Sueli Beduschi
Vejo tapeçaria do Vichetti , que lhe foi amigo, desenhos
Do Beck,Fossari, tantas obras
Tudo em arte está ali plantado.

E há ainda a praça com o nome paterno
Que ela homenageia assim seu grande incentivador
O pai que foi mas está ao coração .

Penso, aqui tem a atmosfera da casa de Neruda
em Isla Negra
Lá onde não é Ilha, é Pacífico.oceano bravio
Aqui onde é Ilha,Atlântico,com recortes de calmarias
Confessa Vera, que visitou as casas de Neruda
em Santiago e teve a mesma sensação
Identidade.

II


As paredes da casa
Confluem em uma galeria
Galeria casa
Casa voadora
Como um pássaro que reúne todas as almas por milênios.
Ao segundo andar,
subindo por uma escada
de balaústres torneados em madeira
chegamos ao patamar .
Sim, inverto o sentido
Ao segundo, o patamar
Pois ali o espaço onde pinta.
Os desenhos?
Leva consigo antes de dormir,
Desenhar, a cama acostumou-se
Ao hábito
Talvez para sonhar suas cores.

No ateliê ,pés ao chão, pernas entrecruzadas
corpo que se projeta
posição fetal.


Três são os filhos gerados:
Bruno, Jorge e Marco
E de seus filhos já os filhos:
Yasmim e Gabriel.

Da artista herdaram a sina
Dos gerados em “Casas da Criação”
São os códigos secretos , impalpáveis
Que caminham desde a infância
Ao inconsciente e ali bordam
As tatuagens do ser.

Vez e outra são
Tingidos de caminharem
Por entre telas e cores.

Têm, na palma da mão,
O Imaginário
E vêem a diário
Ser o mundo repaginado
na nova tela
Que acaba de nascer.

Assim de corpo a proteger o útero da criação
Postada ao chão,
Nasce fértil , vivaz
A feminina arte de VERA SABINO.

Não há fronteiras entre o ser e o estar
que não esteja tatuado das entranhas do olhar
que vê o além.

Rara sensação,Vera conversa,e com panos
brancos em camadas diversas
volteia a tela,esfumaçando as tintas
agregando camadas,contornos,cores
que mistura de primárias, obtendo tons tão próprios
e ali ao útero da criação é capaz de gestar
outros seres, santos, mulheres da ilha.
Predomina a figura feminina
Seria ela mesma a Vera
A modelo observadora,e observada
postada na maioria de suas telas?

Penso na Arte Bizantina,
figuras femininas(em sua maioria) de mantos
Olhares fixos que nos acompanham
As imagens de seus quadros têm este olhar fixo
E atentamente percebemos que dentro dos
Olhos, há outro olhar
Assim uma unidade
Formada na duplicidade de efeitos
Revelando infinitudes.

Que sua arte vem desde sempre
delicada e forte, detalhes, a ilha, peixes
flores, bromélias,pássaros, janelas, luas
cortinas, rendas, tudo se plasma
voltam os santos, via crucis, vasos.

Olho as telas,não as quero ver
Apenas escutar o que me dizem

Do tempo, do vento
Do ventre da criação
Este mundo que vive dentro
De seu ser, é habitado por 3.000
Anos de almas,
Que plasmam a vida plena
As cores vivas, púrpura, vermelha
Liláses etéreos, oníricos.
Verdes e azuis tonais, brancos de recortes
Como filetes de lua
Lua nua que adentra aos poros
E liberta ao vôo
Arco-íris e Auroras boreais
Sob açorianas formas
Tracejam o caminho do infinito
Na obra de Vera Sabino.


ilha VI de II DE MMVIII C.F.

SITE DA ARTISTA :www.verasabino.com
.

3 comentários:

Anônimo disse...

Querida Carmem
Entro no teu blog e me esbaldo. Encontro um pouquinho do universo da grande Simone Oliveira, uma mulher sem idade,de tempo absoluto no seu espaço criativo. Clico mais um pouquinho... a grande surpresa: o Universo de Vera Sabino em versos teus,lindos. Palavra colocada com sentimento e beleza de quem sabe olhar não apenas a Vera pintora-mulher. Palavra de quem é filha desta terra insular, respira e ama a Ilha, olhar de bruxa,pura magia.
Amei. Beijos

CARMEN FOSSARI disse...

Querida Lélia,
Agredeço tua visita ao Armazém, as palavras que entoas vêm da paixão que assola os mares da vida insular, frutificada em arquipélagos de arte e cultura que tua caminhada costura,desde as vizinhas terras de Anita Garibaldi aos Açores que sedimentaram fortemente em nossa cultura plural.
O poema de VERA SABINO escrevi repleta daquele universo daquela CASA DA CRIAÇÃO,a arte alí está viva!!!
Simone é Divina,que bom que temos a arte para nos aproximarmos
do universo que reverbera luz...
Obrigada,por tua visita, uma honra, e saudades (FFC)
beijim

carmen

CARMEN FOSSARI disse...
Este comentário foi removido pelo autor.