quarta-feira, fevereiro 12, 2020



 PERSONAGENS NA OBRA DE FRANKLIN CASCAES.
                      Carmen Lúcia Fossari
                                                                           INTRODUÇÃO
Muito honrada me senti em receber ligação de Hermes Graipel  convidando para participar desta Coletânea reunindo textos com vários olhares sobre a obra do Professor, Artista Plástico e Pesquisador FRANKLIN CASCAES, em comemoração ao CENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO.
Anterior ao ato de escrever este artigo ocorreu-me a emoção de quem teve a oportunidade, por muitas vezes de observar sua obra, acompanhar um pouco suas pesquisas, e ter vivido por um período ao mesmo tempo dele na Ilha. Especialmente no fato de coincidir ter  o mesmo  olhar amoroso e de zelo pelas identidades culturais múltiplas da Ilha. E nisto somos quase todas as pessoas que conseguem amar esta geografia em suas humanidades, distanciadas do olhar da ganância, daquilo que evidentemente pode vir a traduzir a privatização de belíssimos espaços públicos ao servilismo do Capital em suas, então sim “Bruxólicas’ artimanhas. Uma gama de possibilidades e todas inesgotáveis nos surgem quando o tema gira em torno de FRANKLIN CASCAES, uma das mais proeminentes personalidades que aqui viveram e permanece! Ao limite do tempo e espaço optei por dois momentos distintos neste artigo:
No primeiro momento deixo minha emoção (dês) nortear fatos e impressões desta memória que entrecruza algumas atividades teatrais que realizei pontuando um olhar de similitude ao campo da pesquisa iconográfica de CASCAES e depois, passando a ser sua própria obra a fonte de minha pesquisa.
 No segundo momento optei  lançar o olhar, junto com o leitor ao olhar de CASCAES através de  fotografias dos DESENHOS E ESCULTURAS, que  selecionei e  redigitalizei, de momentos  diferenciados ao processo  de sua obra.As fotografias pertencem ao Acervo de sua obra que está no MUSEU UNIVERSITÁRIO PROFESSOR DR. OSWALD RODRIGUES CABRAL (*). Ao acompanharmos algumas fases do OLHAR DE FRANKLIN CASCAES, surgirão as PERSONAGENS  de CASCAES que nos revelam o riquíssimo processo deste manancial criativo. Tantos quantos os mananciais aqüíferos desta Ilha de Nossa Senhora do Desterro.
Penso sempre ser relevante pontuarmos o caminhar paralelo do Pesquisador e do Artista, que sempre se mantiveram em universos distintos, sendo ambos de tanta visceral idade que em parte oclusa a totalidade da obra de FRANKLIN CASCAES, sendo muitas vezes uma parte vista pelo seu todo.
Nos dois momentos vou acentuar o universo da PERSONAGEM, quer deste nosso mitoCASCAES” ou aqueles PERSONAGENS que sob seu olhar foram renascidos à eternidade da cultura e da arte.
COMO CONHECI FRANKELIN CASCAES.
Recordo de que ao meio do dia, de um dia que ao calendário não sei precisar, nem o ano exato, penso que em 1970, toca a campainha e vou atender, ao tempo que abríamos as portas da frente das casas, lá na Raul Machado, como a maneira mais gentil de atender quem chegasse.

_ (*) Médico e Historiador e Escritos. Em várias obras de Pesquisa Histórica,  nos legou uma parte significativa da História de Santa Catarina  e  de Florianópolis.Criador do Museu Universitário .


Batia um sol primaveril, sob as costas de um paletó escuro, as lentes verdes e grossas, não escondiam um olhar muito profundo. O bigode curto e as mãos fortes se encontraram, e logo as mãos foram à testa. Pigarreou antes de falar, estava inquieto ou  tinha  muita pressa!
-Pois não, disse-lhe, com quem quer falar?
-Professor Fossari, ele está?
Respondi que logo chegaria e convidei-o que entrasse a casa. Respondeu breve  depois de agradecer, ou melhor antes  de agradecer  disse ao que  vinha.
- Emprestei meus modelos de gesso (partes da anatomia humana) que faço em gesso ali na ESCOLA TÉCNICA (onde foi professor de Desenho) para ele usar nas aulas de desenho, mas agora vou precisar. Só avise que estive aqui, que ele já saberá do que se trata. Sou o PROFESSOR FRANKLIN CASCAES.
Quando olhei atenta já não estava e vi seu vulto já na calçada caminhar com decididos passos.
Assim saiu, soube na chegada minutos depois do pai pintor, que o PROFESSOR CASCAES, como
DORALÉCIO SOARES dedicado nas pesquisas da rendas e folclore ilhéus, também pesquisava muito,
 e ainda desenhava. Motivo que os faziam manter contato referentes a busca das peças de gesso. Soube ainda que eram do PROFESSOR CASCAES muitos moldes de anatomia dos cursos de desenhos lecionados pelo FOSSARI, a saber: braços, ante braços, mãos abertas, mãos fechadas, pés,
 tudo em modelagem do corpo humano feitos em gesso. E que  algumas  esculturas,    e desenhos do movimento eram repassados pelo FOSSARI numa troca objetivando os traços aprimorados.
UM ENCONTRO NA BARRA DA LAGOA
 Das memórias de quando estive próxima nas suas incontáveis (toda sua vida) idas “ao campo”, remeto ao período em que por aproximadamente 10 anos, escrevi e encenei textos teatrais resultantes de pesquisas da cultura popular na Ilha de Santa Catarina, junto ao Grupo Pesquisa Teatro Novo. O nome do Grupo Teatral que criamos  junto a UFSC,já enunciava a intenção a época ,de realizar um teatro capaz de  exprimir o ponto de vista das pessoas quase  sempre preteridas pela cultura oficial, a começar pela forma diferente dos falares corridos com acento muito particular.
Minha primeira incursão em pesquisa de campo se deu  quando aluna do CURSO DE LETRAS .Fomos conduzidas, a turma para pesquisarmos  os falares dos pescadores na disciplina FILOLOGIA LINGUÍSTICA.Contudo mais do que tabularmos o numero de vezes  que a vogal” e “ vinha adjunta a palavra mar,em mare, e outros ditos  da linguagem oral que confirmassem a presença na Ilha do Português Arcaico,não havia  nenhuma  reflexão que ultrapassasse os limites da CONSTATAÇÃO.
Considerava uma pena que não aprofundássemos para além da estatística de palavras e adentrássemos ao tempo e realidade presente e circundante.
A Língua é um código que revela a história e pode fazer História.
Coincidência, neste período a liberdade de expressão estaca cerceada e vários fatores ameaçavam a natureza de uma ilha, cujos habitantes iniciais conseguiam sobreviver culturalmente, do minifúndio e da pesca artesanal. As condições adversas destes núcleos populares, desprotegidos do estado,sofreu um duro golpe quando a tentativa de serem organizados em uma grande COOPERATIVA DE PESCA, dita FECOPESCA inicio dos anos 70,com abrangência em todo litoral catarinense, capitaneados por PAULO STUART WRIGHT é desmantelada pelo regime militar.
A impossibilidade de usar a linguagem com liberdade motivou que realizássemos um teatro local nascido das pesquisas e retornado às comunidades sob forma de peças teatrais. Deste ciclo  cito: O DIA EM QUE MATEUS DO BOI DE MAMÃO FOI NO DOUTOR NA CIDADE,TERRA DE TERRARA,ENGENHO ENGENDRADO,ARCA AÇORIANA, NA PRAÇA O TEATRO DA PRAÇA, OCASOS RAROS CASOS SIMPLES e OS 7 SEGREDOS DO MAR.
E foi em uma destas idas para Pesquisar matéria para os textos teatrais, que encontrei in loco
 Na beira da praia da Barra da Lagoa o Professor FRANKLIN CASCAES.
Com um pequeno gravador de pilha e fitas cassete eu entrevistava pescadores sobre o acima citado, personagem desaparecido na Ditadura Militar Deputado PAULO STUART WRIGHT, mais tarde este material resultou na peça OS Sete SEGREDOS DO MAR, quando pára um carro e  ele se aproxima acompanhado de uma senhora , sua esposa ELIZABETH, o PROFESSOR CASCAES.
Muitas pessoas acorrem para lhe apertarem as mãos, seguidos de abraços confiantes, faz um breve aceno
 e   caminha em direção ao Riozinho e  se detém  conversando com algumas mulheres de pescadores que estavam  escalando  peixe  na  beira do rio, depositando-os em  bacias de alumínio.
Entre gravar as respostas  dos pescadores , os que tinham ainda coragem de falar do PAULO STUART WRIGHT,  o  microfone na mão e observar o Professor, dividi minha atenção. Depois soube que  a visita objetivava os registros da culinária, açoriana, mas precisamente o preparo das  tainhas, vindas  num grande lance, trazidas pelo vento sul.
Por esta época, uns anos  seguidos, começou a ser editada a obra literária de CASCAES. A publicação dos CONTOS   deteve nossa ida  as pesquisas in loco, passando a realizar  na maioria das vezes na obra editada do PROFESSOR CASCAES.
 Adaptei inúmeros contos e encenamos nas ruas e vilas com a técnica de TEATRO DE RUA. Dentre os contos encenados cito: BALANÇO BRUXÓLICO, O PADRE E AS PERDIZES e MULHER CANTA GALO
Mais de centenas de vezes ecoaram nas ruas e  freguesias,na cena do GRUPO PESQUISA TEATRO NOVO DA UFSC, os dizeres iniciais através do PERSONAGEM NARRADOR:
- Nos contou o nosso amigo, o Pesquisador FRANKLIN CASCAES... e seguíamos a recontar os fatos, sempre trazendo os fatos a luz da cena que revelasse as estruturas do poder vigente e arbitrário.
Um fato interessante referente ao conto: A MULHER CANTA GALO, que versa sobre uma mulher proprietária de terras e que imita nas manhãs bem cedo o cantar do GALO, para que os roceiros trabalhem cada dia mais cedo.
Já perto do ano 2000, dando um curso na Universidade de CAYEY em Porto Rico, vejo fotografias de uma montagem teatral, inspirada em um conto popular deles referentes a uma denominada igualmente
a mulher que imitava o galo.Encontro ainda , citado pelo dramaturgo AUGUSTO BOAL, em sua obra TÉCNICAS LATINO AMERICANAS PARA UM TEATRO POPULAR,  a mesma história como sendo dos camponeses bolivianos, onde teve a oportunidade de escutar,quando na  Bolívia.
Estas coincidências podem indicar uma origem Indígena ao conto, recontado, na Ilha por CASCAES.
A abrangência do investigador captou elementos das culturas plurais coexistindo e mesclando-se
e amalgamando uma forma de viver do Ilhéu  no território da ILHA DE SANTA CATARINA.
Da dramaturgia nascida a partir dos escritos de FRANKLIN CASCAES, registro o texto que escrevi:
DE AÇORES À DESTERRO UMA VIAGEM BRUXÓLICA, cuja inspiração inicial adveio do conto: VIAGEM AS INDIAS ORIENTAI. A  ação dramática que instaurei   no desenvolvimento da peça traz  um conflito das personagens femininas  :seriam  a bruxas lendas ou realidade? Questionadas antes de um Sabá , antes do estado fadórico, as mulheres concluem que  a permanência delas há de ser”REAL”, para protegerem a Ilha de Santa Catarina, de tudo aquilo  que em nome do Progresso a depredam.
Este  ponto de vista, sempre encontrei na leitura que realizo do Professor FRANKLIN CASCAES  muito da existência das MULHERES BRUXAS no plano onírico, são traduzidas como uma  resistente  reação ao rolo compressor da modernidade avassaladora, que vem comprimindo os habitantes DA ILHA DE SANTA CATARINA. Ao texto acresci outros elementos advindos da cultura afro-descendente. O Maculele, representando a luta que as mulheres bruxas estabelecem para a alternância do poder do novo CHEFE DO BANDO BRUXÓLICO. Neste caso a vencedora do MACULELÊ. Tivemos a oportunidade  de fazer chegar  este universo ilhéu para platéias do Chile, Paraguai,Argentina,Porto Rico e México. A  receptividade ao tema encenado foi sempre surpreendente, então em cada viagem , conversava com os atores e atrizes, quando retornávamos , como é  verdadeiro o dito :” quanto mais penetrares em tua aldeia, mais universal serás”. E  nisto, como em toda  sua obra o CASCAES  foi  e é o  GRANDE  MESTRE!!!
Muitas vezes tive o prazer de encontrar o Professor, sempre em trabalho, em sua casa, na montagem de seus presépios tropicais, atendendo estudantes, jornalistas. A última  vez que vi o Professor, foi na cidade de  Laguna, num projeto de inverno realizado entre a UFSC e  a Prefeitura,o professor  tinha o mesmo olhar  absoluto, e não carregava em seus ombros o universo que já desfrutava de em vida ser MITO E LENDA, apenas aquela dignidade e humildade que nunca soubemos aonde uma era limite da outra.
EM VIDA INSPIRAVA UMA GERAÇÃO DOS JOVENS ARTISTAS.
 O êxito de sua obra Plástica na Bienal em São Paulo, as incursões no STUDIO A 2, do saudoso jornalista BETO STODIECK e PEIXOTO, onde em anexo o então moldureiro VALDIR AGOSTINHO,hoje pintor e musico ,fez com que muitos jovens artistas se aproximassem de sua obra. MARCELO MUNIZ músico, teve CASCAES como um “GURU”, e quando criou com vários músicos o GRUPO MUSICAL ENGENHO, de retumbante sucesso, especialmente com o disco VAI BOTÁ MEU BOI NA RUA, a alma raiz da musica era indubitavelmente da mesma veia do coração de FRANKLIN CASCAES. Também o JONE CESAR ARAÚJO, artista plástico, o NEI SOUZA, artista e Pesquisador e claro o GELCY JOSÉ COELHO, PENINHA, de tanto visitar e entrevistar o Professor tornou-se o amigo fiel, aquele que o acompanhou até o fim da vida, sempre com alegria e respeito á dimensão da obra do Professor, tratando-se depois um grande propagador da Arte do PROFESSOR FRANKILN CASCAES.
A ICONOGRAFIA E A CRIATIVIDADE
Sabemos que o processo criativo é resultante da capacidade de observação e estudo. As exaustivas pesquisas “de campo” de CASCAES, não lhe retiravam o anima, ao contrário, em tudo que transcrevia , desenhava, observava serviram e alimentaram em paralelo a sua alma criativa. Assim que encontramos nele um ser humano tão repleto de humanidades quanto aparente contradições.Profundamente religioso, inquieto com o poder que a Igreja exercia de cerceamento  do onírico popular, especialmente aos seres ditos Bruxólicos.
As MULHERES BRUXAS,quandomodeladas nuas em CASCAES, afloram a reprimida luxúria contida, contada por cordatos pescadores e mulheres de afazeres domésticos, mas cuja imaginação vibrante dimensiona a infinita capacidade humana dos Sonhos, magicamente recriadas pelo PESQUISADOR ARTISTA.
A necessidade de esmiuçar os detalhes, registrando as pessoas de nome comum e as suas profissões, suas religiosidades, suas danças, festas populares, as personalidades mescladas ao povo das gentes simples coexistiu aos feitos outros do Professor. Nasceram  dos desenhos  realistas, inicialmente  comedidos, obedecendo ao limite da realidade, década de 40, e o olhar  beijando a vida que pulsava nas vilas e comunidades. Os feitios das roupas, a comida temperada, os cortes dos cabelos, as brincadeiras das crianças, os jogos das comunidades em épocas das colheitas, a farinhada, a festa de São João, as danças, de origem lusa açoriana, da etnia afra brasileira.
Encontramos no ACERVO,     grafite sobre o papel, datados de 1960, desenhos de animais transmutáveis, ao lado de outros, como um plano de um documentário cinematográfico.Ao lado dos iniciais desenhos de “transmutações”. Como se habitassem dois CASCAES em um, o realista, dotado dos detalhes, cuja obra é um relicário que identifica as várias culturas da Ilha no período de suas pesquisas e o universo ao mundo irreal, ou melhor, o capaz de transmutar as imagens, recriar ao desenho, ou na tridimensionalidade da escultura, todas as formas não convencionais, bebidas da mesa fonte criativa dos habitantes da ilha, onde os mistérios das noites sem luz elétrica a som do mar crepitavam os seres indomáveis no mundo da realidade.
Na abrangência e versatilidade a GENIALIDADE deste homem de hábitos simples. Aquele capaz de visionário, prever péssimos dias à ILHA DE SANTA CATARINA, com a chegada da MADAME PROGRESSO.Ele tinha a dimensão exata da riqueza da vida que se viabiliza na sobrevivência cultural.De tal forma que a imaginação fértil e a visão crítica o fariam criar PERSONAGENS como A MADAME POLÍTICA, A DONA IGREJA, a MADAME JUSTIÇA. Penso que  a abrangência  do legado de CASCAES, ainda   será ao tempo   dimensionada  na amplitude  e abrangência que lhe são próprios.


   Cantora do TERNO DE REIS. (M.U)






        AS PERSONAGENS VISTAS POR CASCAES: PESSOAS DA CIDADE E DAS FREGUESIAS.





     
Menino Engraxate. Detalhe do pano de algodão.











                             Fotógrafo Lambe-Lambe, Praça XV de Novembro. Florianópolis


                          

              Menino sentado com pano no entorno do pescoço, sendo atendido pelo Barbeiro Rural
                                                                                              

                                 


O BarbeiroRural. Detalhe  do Chapéu esculpido, arames  do óculos, pente e tesoura.(M.U)



                                        

             




A PRESENÇA FEMININA MULHERES NA FAINA DIÁRIA, MULHERES NA FÉ EM PRESENÇA.

                     


Mulher descaroçando Algodão Bruto. Detalhe do Descaroçador em Madeira  


               
                        



COLEÇÃO: PROCISSÃO DA MUDANÇA. 




Detalhe dos quatro travesseiros sobre a cabeça e a postura corporal.
                                                                           
                                                                    
                            
     
O OLHAR ATENTO  AO HOMEM DO POVO HUMILDE e AO HOMEM DA HIERARQUIA ELEVADA DA IGREJA,TODOS MERECEDORES DO OLHAR AMOROSO DE CASCAES.       P                                              PESSOA –PERSONAGEM  IVO BODE
                                                                                                                                                                                                                                                                          Monsenhor Frederico Hobo. Procissão Senhor Morto                                  


                                
    FRANKLIN CASCAES O DOCUMENTARISTA “DE CINEMA” SEM CAMARA.
 Desenhos como quem filma um plano aberto! No lado esquerdo inferior está escrito à grafite "Jogo do melado e da farinha", "Quatro bacias - duas com melado e duas com farinha. Cada bacia esconde dentro da farinha e do melado um botão que a pessoa para ganhar o jogo, deve achá-los com a língua" e, no lado direito inferior "7-7-960", "FCascaes" e "Copiado em 1978"  .Dados transcritos da Ficha      Catalogada no MU-SECARTE-UFSC.
Quando “seo” Franlin Cascaes, começou a desenhar sua geografia afetiva, ao entorno da Ilha de Santa Catarina, já olhava sob o ângulo de quem filma o mesmo olhar do cineasta, aquele que consegue colocar toda a imagem dentro de um “quadro”, não valorando a perspectiva e sim o todo que reproduz a visão. Depois  deste enquadramento geral, virão as “tomadas dos detalhes”,a câmara irá aproximar o olhar em um detalhe particular e ele manterá o foco de atenção do espectador  junto ao enredo contado, previamente concebido.Exatamente nesta seqüência, o Professor “Pesquisador”, registrou os “enredos das gentes, seus costumes, suas imaginações, suas danças, fé, sonhos e especialmente uma vida onde a cultura garantia um modo de produção capaz de garantir a auto sustentabilidade.
É os desenhos a grafite sobre papel, depois em nanquim, estudos e reproduções plásticas do que o olhar/câmara captou.
Depois numa outra Ilha, que ao cinema seria a “Ilha de Edição das imagens”, neste caso, sua casa ILHA DEPOSITÁRIA, na Rua Júlio Moura dos segredos que ele captava e tentava desesperadamente guardar, como uma ILÍADA, de heróis comuns, as gentes simples e valentes do mar adentro, das tarrafada, dos ofícios humildes, das sobrevivências culturais. Em,m sua ‘Ilha de Edição” faria um Story Bord( no universo do cinema são as ilustrações prévias a serem   fotografadas), entre centenas de desenhos  todos “REGISTRATÓRIOS, sem cartório, revelava em Preto e Branco  seus filmes  Documentários.Era ainda o cenógrafo, e figurinista, enquanto Pesquisador ARTISTA, todos os detalhes eram reproduzidos.

RETORNANDO AO OLHAR DO CASCAES, O QUE VIA CASCAES ALÉM DO QUE RETRATAVA?
O QUE PRETENDIA PRESERVAR, ADVERTIR?
http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/19659A950DCAB0898325748700430C1B/$FILE/00265.03.00021.JPG

Desenho. ENGENHOS DE FARINHA, somatório de duas culturas a Indígena no Cultivo da Mandioca e Luso Açoriana na criação do Engenho Movido pela tração animal.


http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/BA17B2C2C498ABE68325748700433676/$FILE/00269.03.00057.JPG
Desenho. Rancho de Pescadores, duas imensas Pandorgas, indicando a PESCA COM PANDORGA.


    AS CRIAÇÕES E REPRESENTAÇÕES DA ALMA “ILHÉIA” “SONHEI COM O BICHO”.
http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/1B5973DF3317F59E83257494005AC047/$FILE/00013.02.00015.JPG Ao reverso do Jogo de Apostas dito JOGO DO BICHO, FRANKLIN CASCAES, reproduz uma coleção denominada: A DANÇA DOS 25 BICHOS DO JOGO, numa belíssima criação onde transforma os bichos com corpos humanos de Homens e Mulheres. Nesta página, as mulheres dos “pares” do Burro e do Gato. Provavelmente uma DANÇA DE CARNAVAL.

                                                   
http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/A1E4259B7D70860B83257494005AF1F8/$FILE/00022.02.00023.JPG



 PERSONAGENS: EM MOVIMENTOS
 DANÇA AFRO DESCENDENTE REPRESENTANDO A GUERRA ENTRE O CAPITÃO DO NAVIO E OS FAMINTOS MARINHEIROS.O CACUMBI E AO LADO A FOTO DA ESCULTURA QUE REPRESENTA A TRADIÇÃO LUSO AÇORIANA DE EM SÁBADO DE ALELUIA PERSONALIZAR UM POLÍTICO EM “JUDAS”: A MALHAÇÃO DO JUDAS

1. Capitão do Cacumbi. O mais famoso da Ilha foi o Zé Amaro, há indícios de que esta escultura o represente.
http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/83C9ECE4950856898325749C0057BC09/$FILE/00001.03.00001.JPG         http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/DAD6E555B3F4CC5183257494005B78A4/$FILE/00003.16.00003.JPG  

2.SÁBADO DE ALELUIA. Jovem Malhando o Judas. Judas um boneco  feito de pano , papel e palha é queimado,depois de Malhado.Um “revival medieval”, das fogueiras da Inquisição.




OS DESENHOS INQUIETOS DO ARTISTA!
O Processo Criativo nasce da capacidade de Observação, desta formulação, achamos interessante selecionarmos os desenhos em que FRANKLIN CASCAES, paralelo ao processo de Registrar nos desenhos e esculturas de madeira e gesso policromado exercita, igualmente seu imenso lado criativo, que o tornaria um dos mais vivazes artistas de sua época, cuja obra ultrapassará as fronteiras do tempo.
                       Um Pente com Cabeça de Animal (M.U)
http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/4A0E639BB35E9D9E8325747900405E19/$FILE/00135.05.00134.JPG
http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/A27A25992EB5A6D483257458004AAA2F/$FILE/00133.05.00132.JPG
Desenho de Camelo Estilizado (M.U)




OUTROS DESENHOS ESTILIZADOS, A PASSAGEM DO REAL AO IMAGINÁRIO!

                                 http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/7FAF62FC4D2F59D0832574560045EC63/$FILE/00068.05.00159.JPG
                                                                    Porco Estilizado (MU)
   http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/8F06EFB54EE8E9BC83257458004A9785/$FILE/00132.05.00130.JPG
                                                         Boi Estilizado (MU)



  DESENHOS DA MESCLA DA CRIATIVIDADE E DA OBSERVAÇÃO DO IMAGINÁRIO POPULAR.

      Ano de 62 nanquim sobre o papel, VARRENDO O CAMINHO DE SAN TIAGO 1 (MU)http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/FE1DD8EAEBF7CE9D83257456003F6C22/$FILE/00038.04.00032.JPG
                                      http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/4B70BAC59450D4FF832574750040DCBA/$FILE/00245.04.00079A.JPG
                                                    Burro, Homem, Lobo, TATÁ. (MU)
Boi TATÁ, das Indígenas inserções à cultura da Ilha de     Santa Catarina
PERSONAGENS NASCIDAS DO UNIVERSO ONÍRICO DA ILHA DE SANTA CATARINA.
RECRIADAS EM DESENHOS E ESCULTURAS, CONTADAS EM CONTOS, INCONTÁVEIS.
http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/9EFE8C050AB59AEA8325749800593FB6/$FILE/00016.31.00016.JPG                                         
BRUXA BRUDESUN (M.U)
Quando  Franklin Cascaes ilustra as narrações que escutou: desenhando, esculpindo ou escrevendo sob a sua ótica de Artista, acentua o lado mais histriônico das Mulheres Bruxas, quer fazendo estripulias, aparecendo e desaparecendo em forma de insetos, animais... Assim encontramos nomes  representativos deste humor diríamos “Frankiliano”: BRUDESUN, ,BRUDESA,BRUDEMU,
BRUCADE.
Ao resgate do Pesquisador o tom do registro revelará usualmente um lado mais dramático como o “embruxamento” de criancinhas.

BRUDEMU, personagem num SABÁ, ritual de mulheres  bruxas. De Posse ao Pote de UNGUENTO, com asas nas costas. Pressupõe o imaginário popular que através do UNGUENTO, as mulheres conseguem, após o passarem por todo o corpo, um poder fadórico, capaz de lhes dar condições de Transmutarem a Matéria, certamente uma Bruxa Chefe.
http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/8E25A0BC985FDE1D8325749C0060E9F4/$FILE/00002.32.00002.JPG 
AS ESCULTURAS DE CASCAES DAS MULHERES NUAS, EM ESTADO FADÓRICO!
BRUXA BRUCADE, Também num SABÁ, por isto nua.
http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/52F6741A22FDECC08325749C006133DE/$FILE/00018.32.00019.JPG
ESCULTURAS DOS SERES SOB O EFEITO DA TRANSMUTAÇÃO DAS ESPÉCIES
VABRUNA- Vassoura humanizada, feminina sob efeito fadórico. Muitas vezes desenhada e contada, vista na narração imagético descritiva :VIAGEM DAS BRIXAS ÀS  ILHAS ORIENTAIS. http://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/DE0123DF98F0BE768325749800593BCC/$FILE/00015.31.00015.JPG  BRIDESAhttp://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/1C488B14253BF9008325749C00613860/$FILE/00019.32.00020.JPGhttp://notes.ufsc.br/aplic/MUSEU.NSF/vwFotos/C9158A186D4779568325749C0060EE38/$FILE/00006.32.00006.JPG    COBUCHE,
BRUXA BRIDESA. Mulher nua em estado fadórico, montada  em animal também transmutado, com asas e com as rédeas de comando.
COBUCHE  corpo metade animal, metade humano. Tem asas nas costas.                   
A presença MASCULINA neste universo Onírico está presente. Nos rituais sabáticos, mesmo representando “forças maléficas” são os condutores, por incitação, da liberação do instinto feminino, usualmente reprimido no universo do mundo real.

                             

CASCAES ECOA EM ADVERTÊNCIA À  ILHA DE SANTA CATARINA: ACORDAI!
Os múltiplos fazeres de FRANKLIN JOAQUIM CASCAES registraram, recriaram tornaram visíveis
o  antes  invisível ser das pessoas habitantes em vilas e freguesias.
O boom imobiliário que avassalou a Ilha a partir da década de 1970 retirou o agricultor de seu
Minifúndio, o pescador do mar, a rendeira da renda, e como SEREIA enganadora os tornou
“assalariados” na cidade de Florianópolis. Virou moda na cidade dizer-se MANEZINHO, o nascido
nesta geografia, como uma forma de desculpar-se aos moradores da cidade o ser diferente na linguagem e costumes. Por outro lado, também representa a necessidade de retornar as raízes que identificam uma forma de ser ilhéu.
Muitas vezes este termo tem encoberto ações políticas ou atitudes depredadoras do ecossistema, como um álibi que fizesse esquecer, que esta ILHA DE SANTA CATARINA, por mais que tentem vilpedear  tem sua reserva onírica que a protege:
                                                   “ no creo en  brujas, pero que las hay”....
  FRANKLIN CASCAES certamente é a memória viva que evocaremos aos tempos do sem fim.

                                    ILHA DE NOSSA SENHORA DO DESTÊRRO, 29 DE Outubro de MMVIII
Carmen Lúcia Fossari
Atriz, Dramaturga e Roteirista
Diretora do Grupo Pesquisa Teatro Novo
Coordenadora da Oficina Permanente do Ator
DAC-SECARTE-UFSC.






      





















                        





























                         

























                                                                                                                            

















     

                                                                                                                        
































                                                                                            

                                                                                      

                                                                                             




                                                                                   


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