PERSONAGENS NA OBRA DE FRANKLIN
CASCAES.
Carmen
Lúcia Fossari
INTRODUÇÃO
Muito honrada me senti em receber
ligação de Hermes Graipel convidando
para participar desta Coletânea reunindo textos com vários olhares sobre a obra
do Professor, Artista Plástico e Pesquisador FRANKLIN CASCAES, em comemoração
ao CENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO.
Anterior ao ato de escrever este artigo
ocorreu-me a emoção de quem teve a oportunidade, por muitas vezes de observar sua
obra, acompanhar um pouco suas pesquisas, e ter vivido por um período ao mesmo tempo
dele na Ilha. Especialmente no fato de coincidir ter o mesmo olhar amoroso e de zelo pelas identidades culturais
múltiplas da Ilha. E nisto somos quase todas as pessoas que conseguem amar esta
geografia em suas humanidades, distanciadas do olhar da ganância, daquilo que
evidentemente pode vir a traduzir a privatização de belíssimos espaços públicos
ao servilismo do Capital em suas, então sim “Bruxólicas’ artimanhas. Uma gama
de possibilidades e todas inesgotáveis nos surgem quando o tema gira em torno
de FRANKLIN CASCAES, uma das mais proeminentes personalidades que aqui viveram
e permanece! Ao limite do tempo e espaço optei por dois momentos distintos
neste artigo:
No primeiro momento deixo minha emoção
(dês) nortear fatos e impressões desta memória que entrecruza algumas
atividades teatrais que realizei pontuando um olhar de similitude ao campo da
pesquisa iconográfica de CASCAES e depois, passando a ser sua própria obra a
fonte de minha pesquisa.
No segundo momento optei lançar o olhar, junto com o leitor ao olhar
de CASCAES através de fotografias dos
DESENHOS E ESCULTURAS, que selecionei
e redigitalizei, de momentos diferenciados ao processo de sua obra.As fotografias pertencem ao Acervo
de sua obra que está no MUSEU UNIVERSITÁRIO PROFESSOR DR. OSWALD RODRIGUES CABRAL (*). Ao acompanharmos algumas fases do OLHAR DE FRANKLIN CASCAES, surgirão
as PERSONAGENS de CASCAES que nos
revelam o riquíssimo processo deste manancial criativo. Tantos quantos os
mananciais aqüíferos desta Ilha de Nossa Senhora do Desterro.
Penso sempre ser relevante
pontuarmos o caminhar paralelo do Pesquisador e do Artista, que sempre se
mantiveram em universos distintos, sendo ambos de tanta visceral idade que em
parte oclusa a totalidade da obra de FRANKLIN CASCAES, sendo muitas vezes uma
parte vista pelo seu todo.
Nos dois momentos vou acentuar o
universo da PERSONAGEM, quer deste nosso mito “CASCAES” ou aqueles PERSONAGENS que sob seu olhar foram
renascidos à eternidade da cultura e da arte.
COMO CONHECI FRANKELIN CASCAES.
Recordo
de que ao meio do dia, de um dia que ao calendário não sei precisar, nem o ano
exato, penso que em 1970, toca a campainha e vou atender, ao tempo que abríamos
as portas da frente das casas, lá na Raul Machado, como a maneira mais gentil de
atender quem chegasse.
_ (*) Médico e Historiador e Escritos.
Em várias obras de Pesquisa Histórica,
nos legou uma parte significativa da História de Santa Catarina e de
Florianópolis.Criador do Museu Universitário .
Batia um sol primaveril, sob as
costas de um paletó escuro, as lentes verdes e grossas, não escondiam um olhar
muito profundo. O bigode curto e as mãos fortes se encontraram, e logo as mãos
foram à testa. Pigarreou antes de falar, estava inquieto ou tinha
muita pressa!
-Pois não, disse-lhe, com quem
quer falar?
-Professor Fossari, ele está?
Respondi que logo chegaria e
convidei-o que entrasse a casa. Respondeu breve
depois de agradecer, ou melhor antes de agradecer disse ao que
vinha.
- Emprestei meus modelos de gesso
(partes da anatomia humana) que faço em gesso ali na ESCOLA TÉCNICA (onde foi professor
de Desenho) para ele usar nas aulas de desenho, mas agora vou precisar. Só
avise que estive aqui, que ele já saberá do que se trata. Sou o PROFESSOR FRANKLIN
CASCAES.
Quando olhei atenta já não estava
e vi seu vulto já na calçada caminhar com decididos passos.
Assim saiu, soube na chegada
minutos depois do pai pintor, que o PROFESSOR CASCAES, como
DORALÉCIO SOARES dedicado nas
pesquisas da rendas e folclore ilhéus, também pesquisava muito,
e ainda desenhava. Motivo que os faziam manter
contato referentes a busca das peças de gesso. Soube ainda que eram do PROFESSOR CASCAES muitos moldes de anatomia dos cursos de desenhos lecionados pelo FOSSARI,
a saber: braços, ante braços, mãos abertas, mãos fechadas, pés,
tudo em modelagem do corpo humano feitos em gesso.
E que algumas esculturas,
e desenhos do movimento eram repassados pelo FOSSARI numa troca
objetivando os traços aprimorados.
UM ENCONTRO NA BARRA DA LAGOA
Das memórias de quando estive próxima nas suas
incontáveis (toda sua vida) idas “ao campo”, remeto ao período em que por
aproximadamente 10 anos, escrevi e encenei textos teatrais resultantes de
pesquisas da cultura popular na Ilha de Santa Catarina, junto ao Grupo Pesquisa
Teatro Novo. O nome do Grupo Teatral que criamos junto a UFSC,já enunciava a intenção a época
,de realizar um teatro capaz de exprimir
o ponto de vista das pessoas quase
sempre preteridas pela cultura oficial, a começar pela forma diferente
dos falares corridos com acento muito particular.
Minha primeira incursão em
pesquisa de campo se deu quando aluna do
CURSO DE LETRAS .Fomos conduzidas, a turma para pesquisarmos os falares dos pescadores na disciplina
FILOLOGIA LINGUÍSTICA.Contudo mais do que tabularmos o numero de vezes que a vogal” e “ vinha adjunta a palavra
mar,em mare, e outros ditos da linguagem
oral que confirmassem a presença na Ilha do Português Arcaico,não havia nenhuma
reflexão que ultrapassasse os limites da CONSTATAÇÃO.
Considerava uma pena que não
aprofundássemos para além da estatística de palavras e adentrássemos ao tempo e
realidade presente e circundante.
A Língua é um código que revela a
história e pode fazer História.
Coincidência, neste período a
liberdade de expressão estaca cerceada e vários fatores ameaçavam a natureza de
uma ilha, cujos habitantes iniciais conseguiam sobreviver culturalmente, do
minifúndio e da pesca artesanal. As condições adversas destes núcleos
populares, desprotegidos do estado,sofreu um duro golpe quando a tentativa de
serem organizados em uma grande COOPERATIVA DE PESCA, dita FECOPESCA inicio dos
anos 70,com abrangência em todo litoral catarinense, capitaneados por PAULO
STUART WRIGHT é desmantelada pelo regime militar.
A impossibilidade de usar a
linguagem com liberdade motivou que realizássemos um teatro local nascido das
pesquisas e retornado às comunidades sob forma de peças teatrais. Deste
ciclo cito: O DIA EM QUE MATEUS DO BOI
DE MAMÃO FOI NO DOUTOR NA CIDADE,TERRA DE TERRARA,ENGENHO ENGENDRADO,ARCA
AÇORIANA, NA PRAÇA O TEATRO DA PRAÇA, OCASOS RAROS CASOS SIMPLES e OS 7
SEGREDOS DO MAR.
E foi em uma destas idas para Pesquisar matéria para os textos teatrais,
que encontrei in loco
Na beira da praia da Barra da
Lagoa o Professor FRANKLIN CASCAES.
Com um pequeno gravador de pilha e fitas cassete eu entrevistava
pescadores sobre o acima citado, personagem desaparecido na Ditadura Militar Deputado
PAULO STUART WRIGHT, mais tarde este material resultou na peça OS Sete SEGREDOS
DO MAR, quando pára um carro e ele se
aproxima acompanhado de uma senhora , sua esposa ELIZABETH, o PROFESSOR CASCAES.
Muitas pessoas acorrem para lhe apertarem as mãos, seguidos de
abraços confiantes, faz um breve aceno
e caminha
em direção ao Riozinho e se detém conversando com algumas mulheres de pescadores
que estavam escalando peixe
na beira do rio, depositando-os
em bacias de alumínio.
Entre gravar as respostas dos pescadores , os que tinham ainda coragem
de falar do PAULO STUART WRIGHT, o microfone na mão e observar o Professor, dividi
minha atenção. Depois soube que a visita
objetivava os registros da culinária, açoriana, mas precisamente o preparo das tainhas, vindas num grande lance, trazidas pelo vento sul.
Por esta época, uns anos seguidos, começou a ser editada a obra
literária de CASCAES. A publicação dos CONTOS
deteve nossa ida as pesquisas in
loco, passando a realizar na maioria das
vezes na obra editada do PROFESSOR CASCAES.
Adaptei inúmeros contos e encenamos nas ruas e
vilas com a técnica de TEATRO DE RUA.
Dentre os contos encenados cito: BALANÇO BRUXÓLICO, O PADRE E AS PERDIZES e MULHER
CANTA GALO
Mais de centenas de vezes ecoaram
nas ruas e freguesias,na cena do GRUPO
PESQUISA TEATRO NOVO DA UFSC, os dizeres iniciais através do PERSONAGEM
NARRADOR:
- Nos contou o nosso amigo, o
Pesquisador FRANKLIN CASCAES... e seguíamos a recontar os fatos, sempre trazendo
os fatos a luz da cena que revelasse as estruturas do poder vigente e arbitrário.
Um fato interessante referente ao
conto: A MULHER CANTA GALO, que
versa sobre uma mulher proprietária de terras e que imita nas manhãs bem cedo o
cantar do GALO, para que os roceiros trabalhem cada dia mais cedo.
Já perto do ano 2000, dando um
curso na Universidade de CAYEY em Porto Rico, vejo fotografias de uma montagem
teatral, inspirada em um conto popular deles referentes a uma denominada
igualmente
a mulher que imitava o galo.Encontro
ainda , citado pelo dramaturgo AUGUSTO BOAL, em sua obra TÉCNICAS LATINO
AMERICANAS PARA UM TEATRO POPULAR, a
mesma história como sendo dos camponeses bolivianos, onde teve a oportunidade
de escutar,quando na Bolívia.
Estas coincidências podem indicar
uma origem Indígena ao conto, recontado, na Ilha por CASCAES.
A abrangência do investigador
captou elementos das culturas plurais coexistindo e mesclando-se
e amalgamando uma forma de viver
do Ilhéu no território da ILHA DE SANTA
CATARINA.
Da dramaturgia nascida a partir dos
escritos de FRANKLIN CASCAES, registro o texto que escrevi:
DE AÇORES À DESTERRO UMA VIAGEM
BRUXÓLICA, cuja inspiração inicial
adveio do conto: VIAGEM AS INDIAS ORIENTAI. A ação dramática que instaurei no desenvolvimento da peça traz um conflito das personagens femininas :seriam
a bruxas lendas ou realidade? Questionadas antes de um Sabá , antes do
estado fadórico, as mulheres concluem que
a permanência delas há de ser”REAL”, para protegerem a Ilha de Santa
Catarina, de tudo aquilo que em nome do
Progresso a depredam.
Este ponto de vista, sempre encontrei na leitura
que realizo do Professor FRANKLIN CASCAES
muito da existência das MULHERES BRUXAS no plano onírico, são traduzidas
como uma resistente reação ao rolo compressor da modernidade
avassaladora, que vem comprimindo os habitantes DA ILHA DE SANTA CATARINA. Ao
texto acresci outros elementos advindos da cultura afro-descendente. O
Maculele, representando a luta que as mulheres bruxas estabelecem para a
alternância do poder do novo CHEFE DO BANDO BRUXÓLICO. Neste caso a vencedora
do MACULELÊ. Tivemos a oportunidade de
fazer chegar este universo ilhéu para
platéias do Chile, Paraguai,Argentina,Porto Rico e México. A receptividade ao tema encenado foi sempre
surpreendente, então em cada viagem , conversava com os atores e atrizes,
quando retornávamos , como é verdadeiro
o dito :” quanto mais penetrares em tua aldeia, mais universal serás”. E nisto, como em toda sua obra o CASCAES foi e
é o GRANDE MESTRE!!!
Muitas vezes tive o prazer de
encontrar o Professor, sempre em trabalho, em sua casa, na montagem de seus
presépios tropicais, atendendo estudantes, jornalistas. A última vez que vi o Professor, foi na cidade de Laguna, num projeto de inverno realizado
entre a UFSC e a Prefeitura,o
professor tinha o mesmo olhar absoluto, e não carregava em seus ombros o
universo que já desfrutava de em vida ser MITO E LENDA, apenas aquela dignidade
e humildade que nunca soubemos aonde uma era limite da outra.
EM VIDA INSPIRAVA UMA GERAÇÃO DOS JOVENS ARTISTAS.
O êxito de sua obra Plástica na Bienal em São
Paulo, as incursões no STUDIO A 2, do saudoso jornalista BETO STODIECK e
PEIXOTO, onde em anexo o então moldureiro VALDIR AGOSTINHO,hoje pintor e musico
,fez com que muitos jovens artistas se aproximassem de sua obra. MARCELO MUNIZ
músico, teve CASCAES como um “GURU”,
e quando criou com vários músicos o GRUPO MUSICAL ENGENHO, de retumbante
sucesso, especialmente com o disco VAI BOTÁ MEU BOI NA RUA, a alma raiz da
musica era indubitavelmente da mesma veia do coração de FRANKLIN CASCAES.
Também o JONE CESAR ARAÚJO, artista plástico, o NEI SOUZA, artista e
Pesquisador e claro o GELCY JOSÉ COELHO, PENINHA, de tanto visitar e
entrevistar o Professor tornou-se o amigo fiel, aquele que o acompanhou até o
fim da vida, sempre com alegria e respeito á dimensão da obra do Professor,
tratando-se depois um grande propagador da Arte do PROFESSOR FRANKILN CASCAES.
A ICONOGRAFIA E A CRIATIVIDADE
Sabemos que o processo criativo é
resultante da capacidade de observação e estudo. As exaustivas pesquisas “de
campo” de CASCAES, não lhe retiravam o anima, ao contrário, em tudo que
transcrevia , desenhava, observava serviram e alimentaram em paralelo a sua
alma criativa. Assim que encontramos nele um ser humano tão repleto de
humanidades quanto aparente contradições.Profundamente religioso, inquieto com
o poder que a Igreja exercia de cerceamento
do onírico popular, especialmente aos seres ditos Bruxólicos.
As MULHERES BRUXAS,quandomodeladas
nuas em CASCAES, afloram a reprimida luxúria contida, contada por cordatos
pescadores e mulheres de afazeres domésticos, mas cuja imaginação vibrante dimensiona
a infinita capacidade humana dos Sonhos, magicamente recriadas pelo PESQUISADOR
ARTISTA.
A necessidade de esmiuçar os detalhes,
registrando as pessoas de nome comum e as suas profissões, suas religiosidades,
suas danças, festas populares, as personalidades mescladas ao povo das gentes
simples coexistiu aos feitos outros do Professor. Nasceram dos desenhos
realistas, inicialmente
comedidos, obedecendo ao limite da realidade, década de 40, e o
olhar beijando a vida que pulsava nas
vilas e comunidades. Os feitios das roupas, a comida temperada, os cortes dos cabelos,
as brincadeiras das crianças, os jogos das comunidades em épocas das colheitas,
a farinhada, a festa de São João, as danças, de origem lusa açoriana, da etnia
afra brasileira.
Encontramos no ACERVO, grafite sobre o papel, datados de 1960, desenhos
de animais transmutáveis, ao lado de outros, como um plano de um documentário cinematográfico.Ao
lado dos iniciais desenhos de “transmutações”. Como se habitassem dois CASCAES em
um, o realista, dotado dos detalhes, cuja obra é um relicário que identifica as
várias culturas da Ilha no período de suas pesquisas e o universo ao mundo irreal,
ou melhor, o capaz de transmutar as imagens, recriar ao desenho, ou na
tridimensionalidade da escultura, todas as formas não convencionais, bebidas da
mesa fonte criativa dos habitantes da ilha, onde os mistérios das noites sem
luz elétrica a som do mar crepitavam os seres indomáveis no mundo da realidade.
Cantora do TERNO DE REIS. (M.U)
AS PERSONAGENS VISTAS
POR CASCAES: PESSOAS DA CIDADE E DAS FREGUESIAS.
Fotógrafo Lambe-Lambe, Praça XV de Novembro. Florianópolis
Menino sentado com pano no entorno do
pescoço, sendo atendido pelo Barbeiro Rural
O BarbeiroRural. Detalhe do Chapéu esculpido, arames do óculos, pente e tesoura.(M.U)
A PRESENÇA FEMININA MULHERES NA FAINA DIÁRIA, MULHERES NA FÉ EM PRESENÇA.
Mulher descaroçando Algodão Bruto. Detalhe do Descaroçador em Madeira
FRANKLIN
CASCAES O DOCUMENTARISTA “DE CINEMA” SEM CAMARA.
Desenhos como quem filma
um plano aberto! No lado esquerdo
inferior está escrito à grafite "Jogo do melado e da farinha",
"Quatro bacias - duas com melado e duas com farinha. Cada bacia esconde
dentro da farinha e do melado um botão que a pessoa para ganhar o jogo, deve
achá-los com a língua" e, no lado direito inferior "7-7-960",
"FCascaes" e "Copiado em 1978" .Dados transcritos da
Ficha Catalogada no MU-SECARTE-UFSC.
Quando “seo” Franlin Cascaes, começou a desenhar sua geografia afetiva, ao
entorno da Ilha de Santa Catarina, já olhava sob o ângulo de quem filma o mesmo
olhar do cineasta, aquele que consegue colocar toda a imagem dentro de um
“quadro”, não valorando a perspectiva e sim o todo que reproduz a visão. Depois deste enquadramento geral, virão as “tomadas
dos detalhes”,a câmara irá aproximar o olhar em um detalhe particular e ele
manterá o foco de atenção do espectador
junto ao enredo contado, previamente concebido.Exatamente nesta
seqüência, o Professor “Pesquisador”, registrou os “enredos das gentes, seus
costumes, suas imaginações, suas danças, fé, sonhos e especialmente uma vida
onde a cultura garantia um modo de produção capaz de garantir a auto
sustentabilidade.
É os desenhos a grafite sobre
papel, depois em nanquim, estudos e reproduções plásticas do que o olhar/câmara
captou.
Depois numa outra Ilha, que ao
cinema seria a “Ilha de Edição das imagens”, neste caso, sua casa ILHA DEPOSITÁRIA,
na Rua Júlio Moura dos segredos que ele captava e tentava desesperadamente guardar,
como uma ILÍADA, de heróis comuns, as gentes simples e valentes do mar adentro,
das tarrafada, dos ofícios humildes, das sobrevivências culturais. Em,m sua ‘Ilha
de Edição” faria um Story Bord( no universo do cinema são as ilustrações prévias
a serem fotografadas), entre centenas
de desenhos todos “REGISTRATÓRIOS, sem
cartório, revelava em Preto e Branco
seus filmes Documentários.Era
ainda o cenógrafo, e figurinista, enquanto Pesquisador ARTISTA, todos os
detalhes eram reproduzidos.
RETORNANDO AO OLHAR
DO CASCAES, O QUE VIA CASCAES ALÉM DO QUE RETRATAVA?
O QUE PRETENDIA
PRESERVAR, ADVERTIR?
Desenho. ENGENHOS DE FARINHA, somatório de duas culturas a Indígena no
Cultivo da Mandioca e Luso Açoriana na criação do Engenho Movido pela tração
animal.
Desenho. Rancho de Pescadores, duas imensas Pandorgas, indicando a PESCA
COM PANDORGA.
AS CRIAÇÕES E
REPRESENTAÇÕES DA ALMA “ILHÉIA” “SONHEI COM O BICHO”.
Ao reverso do Jogo de Apostas dito JOGO DO
BICHO, FRANKLIN CASCAES, reproduz uma coleção denominada: A DANÇA DOS 25 BICHOS
DO JOGO, numa belíssima criação onde transforma os bichos com corpos humanos de
Homens e Mulheres. Nesta página, as mulheres dos “pares” do Burro e do Gato.
Provavelmente uma DANÇA DE CARNAVAL.
PERSONAGENS: EM MOVIMENTOS
DANÇA AFRO DESCENDENTE
REPRESENTANDO A GUERRA ENTRE O CAPITÃO DO NAVIO E OS FAMINTOS MARINHEIROS.O CACUMBI
E AO LADO A FOTO DA ESCULTURA QUE REPRESENTA A TRADIÇÃO LUSO AÇORIANA DE EM
SÁBADO DE ALELUIA PERSONALIZAR UM POLÍTICO EM “JUDAS”: A MALHAÇÃO DO JUDAS
1. Capitão do Cacumbi. O mais
famoso da Ilha foi o Zé Amaro, há indícios de que esta escultura o represente.
2.SÁBADO DE ALELUIA. Jovem
Malhando o Judas. Judas um boneco feito
de pano , papel e palha é queimado,depois de Malhado.Um “revival medieval”, das fogueiras da Inquisição.
OS DESENHOS INQUIETOS DO ARTISTA!
O Processo Criativo nasce da
capacidade de Observação, desta formulação, achamos interessante selecionarmos
os desenhos em que FRANKLIN CASCAES, paralelo ao processo de Registrar nos
desenhos e esculturas de madeira e gesso policromado exercita, igualmente seu
imenso lado criativo, que o tornaria um dos mais vivazes artistas de sua época,
cuja obra ultrapassará as fronteiras do tempo.
Um Pente com Cabeça de Animal (M.U)
Desenho de Camelo Estilizado (M.U)
OUTROS DESENHOS ESTILIZADOS, A PASSAGEM DO REAL AO IMAGINÁRIO!
Porco Estilizado (MU)
Boi Estilizado (MU)
DESENHOS DA MESCLA DA
CRIATIVIDADE E DA OBSERVAÇÃO DO IMAGINÁRIO POPULAR.
Ano de 62 nanquim sobre o
papel, VARRENDO O CAMINHO DE SAN TIAGO 1 (MU)
Burro, Homem, Lobo, TATÁ. (MU)
Boi TATÁ, das Indígenas inserções à cultura da Ilha de Santa Catarina
PERSONAGENS NASCIDAS DO UNIVERSO ONÍRICO DA ILHA DE SANTA CATARINA.
RECRIADAS EM DESENHOS E ESCULTURAS, CONTADAS EM CONTOS, INCONTÁVEIS.
BRUXA BRUDESUN (M.U)
Quando Franklin
Cascaes ilustra as narrações que escutou: desenhando, esculpindo ou
escrevendo sob a sua ótica de Artista,
acentua o lado mais histriônico
das Mulheres Bruxas, quer fazendo estripulias, aparecendo e desaparecendo
em forma de insetos, animais... Assim encontramos nomes representativos deste humor diríamos “Frankiliano”: BRUDESUN, ,BRUDESA,BRUDEMU,
BRUCADE.
Ao resgate do Pesquisador o tom do registro revelará
usualmente um lado mais dramático
como o “embruxamento” de criancinhas.
BRUDEMU, personagem num SABÁ, ritual de mulheres bruxas. De Posse ao Pote de UNGUENTO, com
asas nas costas. Pressupõe o imaginário popular que através do UNGUENTO, as
mulheres conseguem, após o passarem por todo o corpo, um poder fadórico, capaz de lhes dar condições de
Transmutarem a Matéria, certamente uma Bruxa Chefe.
AS ESCULTURAS DE CASCAES DAS MULHERES NUAS, EM ESTADO FADÓRICO!
BRUXA BRUCADE, Também num SABÁ, por isto nua.
ESCULTURAS DOS SERES
SOB O EFEITO DA TRANSMUTAÇÃO DAS ESPÉCIES
VABRUNA- Vassoura humanizada, feminina sob efeito fadórico. Muitas vezes desenhada e contada, vista na
narração imagético descritiva :VIAGEM DAS BRIXAS ÀS ILHAS ORIENTAIS. BRIDESA COBUCHE,
BRUXA BRIDESA. Mulher nua em estado
fadórico, montada em animal também
transmutado, com asas e com as rédeas de comando.
COBUCHE corpo metade animal,
metade humano. Tem asas nas costas.
A presença MASCULINA neste
universo Onírico está presente. Nos rituais
sabáticos, mesmo representando “forças maléficas” são os condutores, por
incitação, da liberação do instinto feminino, usualmente reprimido no universo
do mundo real.
CASCAES ECOA EM ADVERTÊNCIA À ILHA DE SANTA CATARINA: ACORDAI!
Os múltiplos fazeres de FRANKLIN
JOAQUIM CASCAES registraram, recriaram tornaram visíveis
o antes invisível
ser das pessoas habitantes em vilas e freguesias.
O boom imobiliário que avassalou a
Ilha a partir da década de 1970 retirou o agricultor de seu
Minifúndio, o pescador do mar, a
rendeira da renda, e como SEREIA enganadora os tornou
“assalariados” na cidade de
Florianópolis. Virou moda na cidade dizer-se MANEZINHO, o nascido
nesta geografia, como uma forma
de desculpar-se aos moradores da cidade o ser diferente na linguagem e
costumes. Por outro lado, também representa a necessidade de retornar as raízes
que identificam uma forma de ser ilhéu.
Muitas vezes este termo tem
encoberto ações políticas ou atitudes depredadoras do ecossistema, como um
álibi que fizesse esquecer, que esta ILHA DE SANTA CATARINA, por mais que tentem
vilpedear tem sua reserva onírica que a
protege:
“ no creo en brujas, pero que las
hay”....
FRANKLIN CASCAES certamente é a memória viva que evocaremos aos tempos
do sem fim.
ILHA DE NOSSA
SENHORA DO DESTÊRRO, 29 DE Outubro de MMVIII
Carmen Lúcia Fossari
Atriz, Dramaturga e Roteirista
Diretora do Grupo Pesquisa Teatro
Novo
Coordenadora da Oficina
Permanente do Ator
DAC-SECARTE-UFSC.
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