sexta-feira, dezembro 21, 2007

ENTÃO SIM , SERÁ NATAL




ENTÃO SIM , SERÁ NATAL

Carmen Fossari


Eu vi de olhos na tempestade
De frio e ventos
Um tempo de frios em peles que não a minha

E logo ao lado, no verão dos trópicos, crianças
Um enxame de crianças famélicas de brasilis,
Das latino Américas
Zumbindo nas ruas tortas
Das noites entorpecidas , ao dia que nunca
Amanhece-lhes
Da omissão
Da comissão
Dos organismos assistenciais
Das prometidas falas
Dos mentirosos discursos
Das estatísticas manuseadas
Nauseantes e vagas mãos
Nauseabundas que atolam
Burocráticos compartimentos
Da Omissão
Da Comissão
Da não ação
Do lavar as mãos
Na Póstuma homenagem a Poncio

Depois meus olhos se maravilharam com as luzes
Que me entorpecem do mais puro prazer
De sedução, encantamentos
Comporto em meu ser dois olhares permanentes
Um e ao outro sempre antagonista,
Entre estar e poder ser, vagueio a seguir
A rota que traça meu olhar.

A mente que minha vida de sim,assim formou-se
Forjei-me dos sentidos a visão do ferro
E entre um olhar de luzes , e respiração ofegante de prazer puro
E incontrolável

Ao outro lado da rua pousa meu olhar, de busca
Embora a cegueira do fascínio (pequeno burguês)
Tateia em meu corpo a sedução.
O mundo que não posso , não aspiro
Mas me enamoro das faíscas produzidas
Dos brilhos e bebidas que borbulham
Tão pouco que nos abraça o silencio
Mortal silencio, pois quem cala consente
Não Sente
Não Vê!!!

De tanta posse e propriedades privadas
Impérios da Over Night
Fogueiras da Mais Valia, os poucos
Pouquíssimos da Posse muita
Da muita Pose
De tanta tudo, coisas, jóias ,
Casas, terras,
Tantos possuírem e são eles tão poucos

E somos a ponte que intermédia as gritantes diferenças
Dos poucos com tudo e dos muitos com nada de terem


II

E são , da visão que descortino
As figuras de barro maceradas gentes
Crianças zumbindo nas ruas, nas calçadas
Descalças
Não alcanço tocar além da ferida da dor
E do presépio do Natal ,
das neves de um distante inverno geográfico
Fixam agora os meus olhos,
o frio cortante do dia que não amanhece
Aos famélicos do mundo!!!

Milhares de Meninos e Meninas Jesus,
Que nascem em manjedouras esfiapadas
Na tortura das oclusões, que habitam
Os lugares mais insólitos, os despossuídos
Terrenos que alagam em chuva
Incêndios explodem os casebres
Chuva que alaga os poucos teres
Telhados que saltam na tempestade inesperada.


E logo que a andar souberem fugirão,
não seguindo a estrela guia
mas as vias tortas ,
que nossa omissão sustenta depois de felizes desejarmos
do minúsculo mítico presépio , que seja à noite
de Natal, Feliz, de Paz

Pois farei meu presépio apenas com
Este enxame de crianças urrando
Todas serão na lapinha o Jesus
Menino,Menina, sem teto, abrigo, de fome nascido
Das rejeições férreas ruas perambulando

Um dia não fugirão das portas do mundo Não
as ruas infindas lentamente abrirão
as portas, suavemente as janelas
rangerão os quebrados vidros
e o cheiro de café coado, se mesclará
ao quente pão do dia amanhecendo

e calçados pés seguirão as ruas
de uma casa até uma escola
de uma escola até um parque
um cinema
um teatro
e ali , representarão , de longínqua memória
os Presépios , para nunca se apagar da memória
aquela idade média de trevas e luz
que vivemos sem sabermos
na pele das nossas crianças e infâncias
manjedouras.

Ilha

XXI/XII de MMVII

2 comentários:

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá Carmen, belo poema, lindíssimo!!!!!!
Tenho uma prendinha para si no Fotos-Fernanda.
Muitos beijinhos,
Fernandinha

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá Carmem, voltei li e reli e cada vez gosto mais da sua poesia.
Deixo-lhe uma prendinha no ; FOTOS-FERNANDA.
Muitos beijinhos, com carinho.
Fernandinha