segunda-feira, dezembro 19, 2016

ENTRE   ÍCONES DA ARTE BRASILEIRA.

Por Carmen Fossari (*)


A Primeira Missa do Brasil por Victor Meirelles – pintor catarinense



O Grito do Ipiranga    p;or Pedro Américo –pintor paraibano


      Há um pensamento que vez e outra ganha a mídia, com reprovação da maioria das pessoas e mesmo sem muito eco  insiste no nefasto slogam “o sul é o meu país”-  Evidencia  tal dito a desinformação sobre  a nossa história e sob o viés da arte e cultura traço um breve olhar , aliás mínimo ,face a imensidão do nosso chão brasileiro de arte e cultura.


            A construção da cultura de uma nação é sempre um  somatório do modo de falar, fazer e criar sua escritura diante  da geografia circundante. Um dos aspectos da cultura humana – e certamente o que mais trata do universo onírico, mesmo que seja para trazer a tona o universo real : é a arte.

           A arte, por sua vez é do ponto de vista conceitual multifacetada por linguagens, escolas- estilos , mas há ainda uma compreensão de que possa ser  popular e erudita. Tal  divisão não seria tão  nociva não viesse talhada por um consenso de uma arte maior e uma arte menor, naquilo que pode  valorar a sua importância.

            Contraditoriamente  quanto mais for  vivenciada a arte dita popular, mais forte será. Assim, os poetas da literatura de cordel do estado da Paraíba,  ao imprimirem artesanalmente e incluírem a arte da xilogravura nas capas- dos cordéis, vendidos nas feiras livres e outros espaços, conseguem  através da poesia  “cantarem a sua tribo” pois que os escritos  tem ressonância na comunidade .

           Os gregos (Séc.V aC ) “cantavam sua tribo” evocando nas  suas peças a presença das figuras  mitológicas; reverberavam a  sua identidade macerada  na construção  mítica / religiosa dos cidadãos .

           O Brasil é repleto das manifestações ditas populares /folclóricas-  eventos que se repetem num determinado calendário, portanto previsível enquanto manifestação na forma/conteúdo (diferente da arte , imprevisível –sem calendário e que se caracteriza por sua unicidade forma/conteúdo) .
          As manifestações folclóricas são repletas de linguagens artísticas em suas estruturas .

            Estabelecer critério valorativo entre a arte popular e erudita é tão inconsistente quanto considerar uma cultura regional superior a outra.

             O folguedo catarinense Boi de Mamão, resulta de várias artes  : a música, o  canto, do improvisador dos versos- o cantador, do escultor que molda os animais do jogo e  dos dançarinos. O Boi de mamão, à sua vez tem outras representações no país  como o Bumba meu Boi, Boi Bumbá, Boi de Vara, Boi de Pano. Cada qual em sua natureza traz elementos de arte ,ressalvando-se  a beleza dos bordados brilhantes do Boi Bumbá maranhense.

             Outra variação da celebração da morte e ressureição do “boi” acontece no Festival de Parintins, no Amazonas .  Anualmente , mês de Junho, na Ilha de Parintins um festival reúne em  três noites 100 mil pessoas ,a linguagem da arte  explode em esculturas que atingem até 26 metros de altura em plena Floresta amazônica. Ali  a festa popular, dita folclórica é construída  sob a égide da Arte.  No quesito música são compostas até 20 toadas por Boi(vermelho/Boi Garantido e azul Boi Caprichoso.) na explosão de cor e movimento há a presença indelével  da cultura indígena perpassada na criação artística do espetáculo.

          A arte está presente  na maior manisfestação cultural , dita popular do Brasil os desfiles das Escolas de Samba . Nascido o samba nas comunidades afro-brasileiras. Uma Escola de Samba apresenta um enrêdo -a história que deve ser contada e cantada através de  alas e dos carros  alegóricos. A criação dos figurinos , adereços e carros  alegóricos  é realizada coletivamente e resultam em obras de arte, perecível , talvez um dos motivos que estimule tanto a criatividade –superar-se ano a ano. Os desfiles  de  Escolas de Samba acontecem em muitos estados brasileiros , a saber:,PB, ES,MG,RJ, SP,PR, SC, RS.

            De origem portuguesa as Festas do Divino - diferente dos Açores, adquirem no Brasil um caráter de status quo com luxuosos figurinos usados pela “corte imperial” .

              O Cacumbi, Ticumbi, Congada, manifestações afro-brasileiras, mantém suas identidades étnicas através  do sincretismo religioso .

                A característica  destas manifestações  que ocorrem em várias regiões brasileiras é  a encenação :o jogo dramatico ,o duelo das personagens. Como  acontece nas Cavalhadas em  Goiás, com arte e dramaticidade. Igualmente o Reisado, Pastoril, Maculelê, Maracatu Chegança, ainda o Pau de Fitas o Kerb de origem alemã ou nossas mitológicas  bruxas que se reúnem sob pedras e o mar capturadas na mente do pesquisador  e artista Franklin Cascaes
             O universo cultural brasileiro absorve ainda a cultura  do hemisfério sul, cultura gaúcha. A arte  de origem indígena, a cestaria,  a cerâmica e  a plumária habitam   esta nação  desde antes das caravelas aqui aportarem.

              A arte brasileira ,dita erudita ,bebeu do  nosso folclore- Volpi as pinturas das bandeirolas juninas; Villa Lobos vide “trem caipira”,Mário de Andrade em Macunaíma as lendas indígenas , Oswald de Andrade  ‘poesia Pau Brasil”e tantos.

             Retorna o pensamento que impulsionou  escrever este artigo , dois ícones da pintura e da literatura brasileira  são ambos nascidos  em equidistantes regiões do Brasil o nordeste e o Sul  : Paraíba e Santa Catarina , Victor Meirellles  , Pedro Américo, Cruz e Sousa e Augusto dos Anjos
               Este  artigo poderia ter iniciado por Recife dos escultores Brennam e Mestre Vitalino, ou pela Bahia do Jorge Amado, dos Afoxés , da Tropicália e ainda pela poesia  cearense de Patativa do Assaré –tudo para evocar  aspectos da arte e cultura que forjam a  pátria brasilis.

                 Victor Meirellles e Pedro Américo, os mais importantes pintores do sécculo XIX, estudaram na Escola de Belas Artes em Paris e estagiaram na Academia Imperial do Rio de Janeiro. Pintaram quadros icônicos da História: Meirelles - o quadro A PRIMEIRA MISSA NO BRASIL e Américo o quadro O  GRITO DO IPIRANGA.

              Na literatura os dois maiores poetas Simbolistas do Brasil e sem exagero do mundo ocidental  são o catarinense Cruz e Sousa e o paraibano  Augusto dos Anjos.

              A arte Brasileira  é amalgamada na alma  brasileira e isto a cultura o comprova, sem divisões entre popular ,erudito,  nordeste ,sul, norte e sudeste .

             Mergulhemos nesta dádiva da arte e cultura brasileiras mesmo com toda a  turbulência  política que atravessamos -  a nação brasileira é o povo todo unido ,não dividir, menos ainda separar, somar sempre!

* Carmen Fossari- poetisa, diretora de teatro,dramaturga e roteirista.Da Academia Catarinense de Letras e Artes. Doutoranda do PPGEGC./UFSC



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