sexta-feira, dezembro 08, 2006

Um Fato, de fato

carmenluciafossari

O homem vestiu um Fato
Escuro por ser elegante
Mas para esperar o Novo Ano
trocou-o pelo smoking

Um homem vestido de smoking
Deveria ao menos
No ano novo chegando
Dizer-se
Não mais “smoke”

Depois voltar ao Fato
No ano novo já indo
E de não mais fazendo o uso
De seu “smoke”
A voz,feliz , por descansar das tragadas
Intragáveis do cigarro
já pode entoar a triste sina
Do fado, que chorar
Há que, ao cantar

De fato, com Fato vestido
De elegante a galante
E de galante falante
E de falante um amante
Que de se amar estando
No Fato,
De fato impecável
De talhe vestido
Vestir na pele outra pele
Quem tu és
De outra indumentária
Portada ao teu corpo
De tantas almas de seres
Ali,o ano começa
Aqui o ano termina
De minha pele
Em outra, que tecidos
Me seduzem
Do oriente as sedas
Da natureza as cores
Dos teares o algodão
Troco por linho
Num piscar de olhos
Que tudo aquarela
O corpo , este tão longe
Dali
Onde o ano novo nasceu
Enquanto o meu já termina.
A seda que abriga meu corpo
Desnuda a minha solidão
O Fato que estás a vestir
Há de abraçar outro corpo
De fato , meu ano termina.
Mas amanhã desnudo de hoje
Já voltarás vestido de ti
E ,eu de linhas e agulhas
Da linha nascida na aurora
A costurar estarei a roupa
Que bordamos de nó a nó
Nossos nós ...

Ilha dos Açores, 2002

Nenhum comentário: