Poemas de Rosa DeSouza
Postado por Carmen Fossari,10/12/2013
Trago os poemas da fabulosa escritora luso-americana , e habitante com seu marido o Ator Aguinaldo Filho ,na última década, na Ilha de Santa Catarina, cidade de Florianópolis.
Rosinha estudou na Sorbone e nos Estados Unidos onde viveu um longo período.
Além da obra impressa e traduzida em diversos idiomas, agora tem sua literatura publicada em Audiolivro, escreveu recentemente: "AChave do Grande Mistério foi escolhido para ser colocado em um novo modelo de smartphone da Nokia que eles irão lançar em breve no mercado brasileiro."
http://www.youtube.com/watch?v=hR16keMuYyM
Rosinha é uma escritora que podemos atribuir sobrenomes a sua obra, historiadora, filósofa,libertária, mas apenas lendo para sabermos a magnitude de sua literatura.
Dados sobre sua obra no Site: www.rosadesouza.com
A MINHA AVÓ ANA
Rosa DeSouza
Se a minha avó sonhasse...
Naquele tempo poucos tinham telefone,
muito menos privacidade
e até o pensamento era da comunidade.
Só podiam amar uma vez
o que iria até à eternidade.
Jamais dizer talvez...
Jamais negar, jamais pedir,
sempre fingir, só falsidade...
Único escape - dor de cabeça
Consolo: riqueza.
Meu avô nem bem sabia esse organismo.
Pouco mais que uma máquina de fazer filho;
e nem conhecia o vocábulo “escravismo”.
A palavra orgasmo... pior que palavrão.
Dava-lhe tudo, menos prazer e permissão.
Ela chorava, resignada, ainda criança...
O padre era a salvação e a crença.
O único por quem não era pecado ter tesão,
porque todas as falhas tinham divina explicação.
Mas a minha avó (Ana de la Concepcion)
tinha fogo de vulcão. O sangue de Adaluzia...
Sonhando com El Cid Campeador aguentava,
mas a bainha subia... o decote descia e meu avô ralhava...
Um dia, ó um dia... apaixonou-se. Por quem? Não sabia.
O mesmo bonde ele pegava.
Puxando a saia até o tornozelo ela subia.
A caminho das aulas de piano e bordados,
ele sempre aparecia. Ela rubra ficava.
Noutra ocasião, uma carta voando bem de vagarinho...
caiu-lhe no regaço. Com dor na alma a jogou no chão.
Ele não tinha perdão, e por muitos dias o mesmo percalço...
Seria poema? Seria pedido? Seria amor?
Com quase cem anos, ela contava seu desamor.
Talvez na eternidade ele fosse no seu encalço...
Vovózinha querida! Isso de levantar a bainha,
um centímetro... talvez? Não era nada.
Hoje, todos fazemos poesia.
Tu lhe mostravas o tornozelo,
Eu lhe mostro a alma.
Sou livre de amar sem desvelo.
Sempre fizeste sexo sem amor e toda vestida,
eu nado nua e amo sem restrição.
Se me ajoelho não quero perdão, mas ser anoitecida.
PEGADAS
Rosa DeSouza
Novas veredas vão sendo iluminadas
encaminhadas por encantos e desejos profundos.
Há sempre um dia, uma hora, uns segundos
para o qual deixamos bilhões de pegadas.
TE AMO
Rosa DeSouza
Te quero da maneira mais profunda.
Te penso da maneira mais intensa.
Te mostro da maneira mais suspensa.
Te sonho da maneira mais desnuda.
A bundante é a sede que me traga.
A calantos são beijos de poema.
A gonia, o meu sangue em piracema.
A mor, que me mata e embriaga.
M agéstico é o vento que me embala.
M orte, as horas do dia sem te ver.
M ar, um pingo do que me avassala.
O ásis, ter-te como par nesta eugenia...
O rgia, toda a dádiva do meu ser.
O uro, minha renúncia, tua epifania.
DE MANSINHO
Rosa DeSouza
Atravesso sombras
chapinhando na cola do caminho.
Rolando nas alfombras
só permitidas em pensamento,
te vou amando de mansinho
no silêncio de castiçais,
me embrulhando em cristais
só acariciados pelo vento.
VELAS
Rosa DeSouza
Como a cera de uma vela derretendo,
te sinto aproximar.
Amolecendo... bem... devagar...
Acendo velas, milhares delas...
apontando caminhos, iluminando o luar.
Caminho na praia, a onda se espraia.
De teu vulto uma força transborda.
Espreguiça, sonha e intrépida acorda.
Dúvidas acalmam; outro saber, outro pensar...
Te sinto tão perto, tão no meu íntimo;
É longe o caminho; congraço comigo.
Não é transgressão, sou bem amada..
Apago chamas; desobedecem tamanhas...
Velas inteiras derretem estrelas.
Olhando me quedo, esperando um abrigo.
Tão longa a distância; em que país?
Como me atrevo a argumentar?
Te sinto tão próximo, a alma me diz.
Sobre o mundo me sento num pêndulo;
esfrio nos polos, esquento a areia.
Me derreto no centro. Sorvo suco de abelha.
Recados recebo no pensamento.
A nuca me fala que ele me olha.
Entre velas veleiras pressinto a centelha.
O céu se derrete bem de mansinho;
gotas de pérola caem do ar.
Estrelas cadentes me vindo buscar.
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