domingo, setembro 09, 2012




Do Kabuki, De Hamlet a surpresa: UM TSURÚ PELA PAZ
Carmen Fossari






A festa da florada da cerejeira em Frei Rogério é organizada pela Associação Cultural Brasil Japão , Nucleo Celso Ramos ,no Parque Sakura no início do mês de Setembro , ininterruptamente já faz 15 anos.

No dia 2 de Setembro ocorreu a festa organizada pela comunidade dos imigrantes japoneses que estão radicados no meio oeste de Santa Catarina.
Há alguns anos tinha desejo de conhecer a festa, apaixonada que sou pela cultura milenar do Oriente.
Desde muito jovem, me encantou saber que no Japão, para ser um policial é preciso antes saber cuidar das flores, pois quem sabe criar Ikebanas,quem sabe cuidar das flores saberá como tratar com o ser humano. Depois o teatro No e Kabuki me fascinaram, entrei no grupo de Origami (Kami),amei todas as obras de Akira Kurosawa, especialmente Ran, o Taikô, os Bonsai,a cerimônia do chá, o vestuário divino dos kimonos. Para uma geração mais jovem hoje estão os desenhos como uma grande febre, embora goste dos traços dos desenhos, a minha praia em relação à cultura Japonesa de fato está vinculada a tudo que transpira a milenar tradição, então aprecio os artistas plásticos, as gravuras, xilogravuras, e os artistas radicados no Brasil Manabu Mabe, Tomie Ohtake, isto sem falar da diretora de cinema, que dirigiu Gaijin, Tizuka Yamazaki, os poetas, os
Hai Kai e por aí segue isto acrescentando a artista plástica residente na ilha, minha amiga Júlia Iguti,cuja arte é fantástica.
Confesso que da culinária dispenso o Sashimi, aceito bem o Sushi. Confesso ainda que sou ardorosa fã de muitas culturas e que adoro gente, amo profundamente a humanidade, talvez apiedada de nosso destino tão breve no planeta terra. Assim vou apreciando vida afora as construções das culturas do Planeta Azul. Assim cultuo a milenar cultura do Japão, estudo e admiro a China,a(S) África(s), e países de todos os continentes,amo minha miscigenada mistura de alemão, italiano, espanhol e índia.
Meu aguçado interesse pelo fazer humano reconhece que em alguns momentos o olhar se debruça mais amiúde,embora como uma generalista (no sentido de geral) ,que procura no dia a dia, absorver um pouco desta incrível capacidade humana de codificar suas emoções face à vida.
Retornando à cultura japonesa, no momento vivencio um processo de montagem de uma peça de Shakespeare: HAMLET IN QUARTO, tradução de José R.Oshea que produzo e faço a direção junto ao Grupo Pesquisa Teatro Novo, DAC-UFSC. O diferencial é que a nossa montagem segue preceitos e é inspirada em aspectos do teatro No, do Kabuki e incluímos o Taikô.
Estrearemos em Novembro de 2012. A História, não é apenas uma coincidência o ano de 1603.
O último Xogunato no Japão que durou mais de duzentos anos, período Edo, Edo bakufu – bakufu fundado Tokugawa Ieyasu, teve inicio no ano de 1603, o mesmo ano que na Inglaterra William Shakespeare, escrevia Hamlet In Quarto, um texto mesclando prosa e verso privilegiando as marcações da encenação, mais do que a linguagem lírica.
O ano de 1603, sela assim entre realidade e ficção um filete da história em que o sangue pelo poder jorra de forma impiedosa, Shakespeare, falava na ficção o que via na luta sanguinolenta pelo poder, seu texto ao fim somam sete mortes. O Xogunato teve Tokugawa apenas dois anos como Shogum,como rezava a tradição, abdicou mas continuou a govenar de uma forma oclusa, tendo conquistas na unificação japonesa mas em parelelo mantendo uma férrea ditadura militar, e não seria com certeza mais doce a época manter-se no trono dos reinados europeus, como no oriente o ocidente pelo poder e trono sabe fazer jorrar o sangue humano!.

15ª SAKURA MATSURI



Elina Hideko Onaka


Com a finalida de de estudarmos , fomos com o apoio da SECULT, junto com o Grupo Pesquisa Teatro Novo da UFSC á Frei Rogério.
Santa Catarina , de multiplas culturas, tem que se orgulhar e muito de ter em seu solo uma grande , no sentido de aguerrida, comunidade de cultura japonesa.
É inacreditável a beleza do Parque , das cerejeiras em flor e o esforço da comunidade nipônica em celebrar segundo sua cultura a florada das cerejeiras.
SAKURA. O núcleo de Celso Ramos, consegue trazer á cena a milenar cultura japonesa, primeiro pela paisagem das árvores de cerejeiras que plantaram no meio oeste catarinense, depois pela beleza do parque e a decoração primorosa repleta de Koinobori,Origami, Fukinagashi,Comidas Típicas ( Moti-Tsuri), Bonsai,Cerimonia do Chá, e as belissimas apresentações de Taikô,Iai-Dô,
Danças Japonesas, com leques e flores, Bom-Odori, Kendô. Presente um especialista de Shodô(caligrafia) e ainda a exposição com o Acervo da formação do Núcleo em Santa Catarina.
Na cerimônia de abertura dois hinos do Japão e do Brasil, no palco autoridades, mas duas pessoas se destacaram pelo olhar profundo de respeito e amor a sua cultura o Diretor do Núcleo e do Cônsul Geral do Japão em Curitiba.
Cônsul Noboru Yamaguchi

Não resisti e fui cumprimentar o Cônsul Noboru Yamaguchi. Explico, ao meio de sua fala, o Cônsul falou com voz embargada de emoção do Teatro No e Kabuki. Parabenizei-o por sua fala, e raramente vi um Cônsul, e olha que o Teatro tem me possibilitado em outros países contatar em consulados, que citasse o Teatro com paixão e respeito que neste caso tanto o No, quanto o KABUKI são merecedores. Aliás nossa montagem conta com Assessoria de Integrantes da Associação Nippo Catarinense.
.
Uma festa imperdível, porém senti que municipalidade ainda é muito ausente e espero que cada vez mais a comunidade tenha apoio do Governo de SC e da Prefeitura, para manterem esta Festa, uma festa para arvores que florescem! Uma festa para a alma humana!
Por fim vou me dedicar para me despedir de um amigo, eterno, que conhecemos (junto com o Pesquisa Teatro Novo, um dia antes no dia 1 de Setembro, convivemos apenas duas horas, mas o sabemos Amigo, e para perplexidade nossa veio a falecer no meio da semana, escrevo sobre KAZUMI OGAWA


KAZUMI OGAWA UM TSURÚ PELA PAZ.


Quando achei que era importante levar o GPTN a festa das cerejeiras, não me ocorreu que o mais emocionante de tudo, paralelo as pesquisas sobre a cultura Japonesa, viria a ser conhecer o sr Kazumi Ogawa, do MUSEU DA PAZ. Aconteceu um encontro tão mágico entre o grupo e Kazumi Ogawa, que na despedida pedi ao grupo que realizassem o cumprimento , que realizam, segundo a tradição japonesa, feito este que aprenderam com FEFi MANHÃES durante a preparação corporal para Hamlet, seguindo as técnicas da dança e lutas japonesas.
O Museu da Paz, idealizado e construído na propriedade de Kazumi Ogawa,é detentor de uma sino de maisde 400 anos, doado pelo govêrno do Japão, vindo de Nagazaki.
A atrocidade das bombas jogadas na segunda guerra pelos Estado Unidos da América do Norte no Japão, feriram e mataram centenas de milhares de japoneses, mas atingiram o cerne , o coração do Planeta Azul, todos morremos um pouco com tamanha atrocidade, mas alguns viveram na pele e sobreviveram para contar, para que nunca esqueçamos, para que lutemos pela PAZ no mundo, contra os nefastos impérios econômicos.

Museu da Paz Sobrevivente de Nagazaki,o Sr. Kazumi Ogawa, criou o Museu da Paz.Ali uma exposição amplamente ilustrativa sobre este verdadeiro ato de terrorismo contra o Japão na segunda guerra mundial,uma sessão com audio visual e depois um momento em que através da dobradura em papel de Tsurús ele convivia mais amíude com as pessoas falando sobre a necessidade de trabalharmos pela paz. E de repente depois dos origamis em TSURU, dos que ele ensinou o grupo fazer e os que ele generosamente presenteou com uma pedido pela PAZ, como quem semeia sementes mágicas de vida e sonhos, todo grupo de Teatro com os olhos marejados de tanta emoção, estava de joelhos dizendo a tradicional sequência de palavras em japonês: SAYONARA! ARIGATOU GOZAIMASHITA! SAYONARA! ARIGATOU GOZAIMASHITA
Foi tão inesperado para ele, ver duas filas de pessoas, brasileiras de joelhos agradecendo e saudando em japonês que ele chorou, tirou seu boné e curvou-se cerimoniosamente, o grupo repetiu a saudacão, novamente ele emocionado retira seu boné e me segreda, estou com roupa de trabalho, amanhã encontro com o grupo na Festa, não recolocou seu boné, com ele em punho acenou ao grupo a quem ele havia semeado em duas horas amor, sentimentos pela paz, a utopia do amor incondicional. No outro dia não foi a festa, enviaria para ele as várias fotos que registravam aquele momento, mas ele resolveu ser ele mesmo um TSURU, acabo de o ver voando sob a visão turva de meus olhos que lacrimejam,pelo que ele vivenciou do horror da guerra,pelo que ele nunca se transformou refém da violência.Que bom que a vida proporcionou abraçar este homem, aplaudir e por um segundo trazer para ele a sensação de que ele estava literalmente no berço de sua cultura. Arigatôu escrevo ainda com a dor de não o saber mais em seu Museu da Paz.mas ao mesmo tempo feliz de ter conhecido este ser de luz,Um Tsuru, pela Paz: KAZUMI OGAWA.
Fica a sugestão que o Brasil o indique in memorian ao Prêmio Nobel da Paz!.

Por Fim teríamos seara mais forte para bebermos a sede de Hamlet?

KAZUMI OGAWA





Sr.
KAZUMI OGAWA
O elenco de Hamlet In Quarto que foi `A Sakura Matsura: Mariana Lapolli, Bruno Rodrigues Leite ,Thaiana Volkmann , Bruno Locks Floriani,Lisandra Fossari Iwersen,Maíra Fernandes Gauer, Lindson Mühlmann,Edson Abreu, Nei Perin,Marcio Tessmann Carmen Lucia Fossari,Cleber José Bosetti ,Muriel Terezinha Martins ,Ivana Maria Fossari,Roberto Moura,Julião Goulart e Márcia Cattoi. Fotos: carmen, bruno. márcio

3 comentários:

João M. Marques Jacinto disse...

Gostei muito do que aqui nos conta, Carmen! O teatro e a vida, a história e a cultura!...
E da oportunidade que a vida lhe deu de conhecer por umas horas um homem singular e de uma riqueza tamanha e de ele também ter partido feliz, por também vos ter conhecido e convosco convivido, umas horas, uma vida!

Bjs,
jj

CARMEN FOSSARI disse...

Meu querido Amigo, Poeta, Pintor
João Marques Jacinto,
Desde a outra marcem do Atlântico, chegas a ilha.
Sou também agradecida a vida por saber-te e de alguma maneira ir compartindo contigo momentos que me são tão raros e especiais. Para manter o clima :
SAYONARA! ARIGATOU GOZAIMASHITA
Bjs Carmen

CARMEN FOSSARI disse...

Meu querido Amigo, Poeta, Pintor
João Marques Jacinto,
Desde a outra margem do Atlântico, chegas a ilha.
Sou também agradecida a vida por saber-te e de alguma maneira ir compartindo contigo momentos que me são tão raros e especiais. Para manter o clima :
SAYONARA! ARIGATOU GOZAIMASHITA
Bjs Carmen