sábado, junho 16, 2012

Máscaras Teatrais : Restauração

Máscaras Teatrais: Restauração

Carmen Lúcia Fossari.

“Do início, modelar em argila máscaras para brincarmos de “Mascarad@s”
ou para modelar figuras do” Boi de Mamão” é uma imagem usual de minha infância. Minha e de minhas irmãs e irmãos e das crianças vizinhas ao entorno da Rua Raul Machado.

Retirávamos barro dos quintais das casas, deixando buracos cavados, em detrimento de flores, verduras para a total desaprovação de parte dos pais. A gente , da casa 29, tinha a sorte de ter um pai pintor que adorava a ilha e suas tradições e incentivava...latões de cola, quero dizer de grude, eram feitos a base de trigo e água..e daí entrava em cena a Irene Maria, nossa mãe, aliás mãe de oito filh@s, fazia pães caseiros a diário, o que significava ter em estoque , sacas de trigo , por nós então crianças e adolescentes objeto desejado, com tal raridade podíamos preparar a nossa cola , digo nosso grude, com o qual uníamos pedaços de papeis , formando camadas grossas para as nossas máscaras, e as caritas de um boi de mamão, uma cabra, um urso preto, ou de uma Maricota. E para os rapazes ainda o tal grude para as pandorgas, pipas.

Depois veio o Teatro e o Carnaval, a grande produção de máscaras, ainda com a mesma “tecnologia e mão de obra”, se deu para uma escola de samba em que eu e o Dé Beirão, estreamos nas lides do carnaval. Fizemos mais de 30 grandes máscaras brancas, ditas bruxólicas, para uma das alas da ESCOLA DE SAMBA FILHOS DO CONTINENTE, do saudoso e por que não dizer folclórico e apaixonado por sua escola Roleta. A época jurei nunca mais fazer máscaras grandes, sequer modelar em argila, acho que até hoje tenho traumas , vai daí que quando modelo, fico reciclando “n” vezes.

Assim temos no Grupo Pesquisa Teatro Novo, DAC/UFSC, onde dirijo teatro, algumas máscaras que acompanham montagens por mais de duas décadas. Mas devo confessar que, hoje, a despeito do tal trauma, a reciclagem das máscaras tem muito mais a ver com a energia que as máscaras vão adquirindo em cada montagem e. como é de praxe as máscaras ritualísticas adquirem um status de “entidades energéticas” (pura química, nada de metafísica).
Destas velhas e sofridas máscaras de papel, objetos delicados para usos intensos e dramáticos, temos uma que já esteve em temporada no Rio de Janeiro e São Paulo, na peça TERRA DE TERRARA junto ao Projeto MAMBEMBÃO, outra que no espetáculo DE AÇORES A DESTÊRRO, UMA VIAGEM BRUXÓLICA percorreu todas as comunidades litorâneas da Ilha e do Estado e ainda foi quatro vezes ao Chile (em espetáculos variados), e foi à Argentina, Paraguai, México, Porto Rico.

Pelas ruas da cidade, algumas outras máscaras Bruxólicas, em espetáculos de Teatro de RUA:
RUA DE VENTO SUL, NA PRAÇA O TEATRO DA PRAÇA e OCASOS RAROS CASOS SIMPLES.
Outra máscara de expressão mais aguda esteve em peça de luz negra ILHA DOS SONHOS, na Colômbia, apresentando tanto em Bogotá como em Fusugassugá (cidade mais antiga da Colômbia.

Tem uma máscara especial que esteve em espetáculo de DON PABLO NERUDA ENTRE VOGAIS, foi ao Chile e fez uma bela turnê por lá, três temporadas no Teatro da UFSC, esta máscara tem mais de um metro e pintada em tons de azuis, sugere ser a alma do mar do Chile, uma criação inspirada em poema de Pablo Neruda.

As meias máscaras da Comédia Dell Arte, estiveram em peças como O MERCADOR DE VENEZA de William Shakespeare, e MEMÓRIAS DE UMA CACHORRA SEM PRECONCEITOS, do livro homônimo de Harry Laus, ainda do mesmo autor nas peças adaptadas desde seus contos
ZENÃO DAS CHAGAS e MENINOS EU VI.

As máscaras neutras, brancas, usadas segunda a técnica do francês Jacques Le Coq, estiveram em outro espetáculo de Luz Negra, também encenado pelo Pesquisa Teatro Novo: SONHOS.

Outras peças, outras máscaras a citar, mas creio que temos uma visão do quanto às máscaras são bem vindas na nossa produção teatral, e ao escrever percebo que desde a época do barro colhido dos quintais, até as produções em fita gessada, gesso, silicone é a magia da transmutação que a mascara evoca que a torna uma constante vida afora.

Então num dia destes neste 2012, uma aluna da Oficina Permanente de Teatro, DAYANE ARNAUD ,na aula de Teatro de Bonecos, ministrada pela atriz e bonequeira Ivâna Fossari, se prontifica para restaurar três máscaras ,armazenadas ainda com restos de tinta fosforescente,já que seus últimos trabalhos em cena foram em peça de luz negra, passados já três anos.

Agora irão voltar à rua na peça CENAS DA ILHA, TEATRO DE RUA,com alun@s da Oficina Permanente de Teatro, Produção Pesquisa Teatro Novo, DAC/UFSC. Apoio SECULT/UFSC, direção que assino.

O que motivou escrever e postar as fotos do processo de restauração foi a paixão e dedicação com que DAYANE ARNAUD dispensou e acima de tudo compreendeu, que as máscaras eram mais do que papeis colados deteriorados, mas eram pequenos totens, de uma história fértil de produção teatral ,demonstrando assim respeito a história do teatro , que acredito é um ato de generosidade fundamental para quem inicia nas lides teatrais.

Dayane imbuída de ter o melhor resultado convidou o Artista Plástico ALEXANDRE DE SOUZA.

Alexandre com sua arte,deu continuidade ao trabalho de restauração da Dayane,descobriu texturas, cores, movimentação dos olhos, formas de restauração imediata,acaso ocorram incidentes em alguma representação e resultou em belíssimas máscaras novas sim , porém com uma história de bastidores e cenas ao público ofertadas.

Tanto Dayane quanto Alexandre, contataram com a energia concentrada nas máscaras, isto porque viram com o viés da arte , da sensibilidade, não fora isto diriam, joguemos fora e façamos máscaras novas, ou até..compremos máscaras.

Hoje desde a China nos chegam máscaras belas,fakes das iltalianas, que aqui não nos chegam( que pena, ah algumas chegam em criações do Nei Perin que lá estudou).

Eu mesma compro algumas, destas “made in China” para decoração ou para uma festal pois são belas mas são belas e sem alma, jamais as usaria num espetáculo de Teatro.

O Teatro ainda requer uma parcela grande da artesania, do feito a mão, mesmo que incluamos os recursos áudio visuais a ele mesclado.





Fotos: Sylvain Fournier, Alexandre de Souza e Flora Moritz.
Agora a próxima etapa, serão as "madeixas longas das máscaras"























































































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