domingo, setembro 05, 2010

UMA ATRIZ NASCENDO ,UMA ESCRITORA LATENTE

A ATRIZ NASCENDO ,UMA ESCRITORA LATENTE

por Carmen Fossari






Antonieta Merces, na personagem MATTANORA, que vai ao casamentodo filho vestida de noiva...



Estaremos estreando no final de Setembro uma obra que, já realizamos uma Leitura Dramática:ERA UMA VEZ NO PâNTANO DOS GATOS.
Tal Leitura dramatizada resultou num exercício cênico tão visceral que passados 3 meses estamos para estrear como encenação.A leitura inicial tratava de subsidiar a tese de Doutoradao na Irlanda de uma ex aluna de teatro da OPT-DAC, na Irlanda cujo tema versa O TRADUTOR E O DIRETOR. Alinne Fernnandez traduziu o texto de Marina Carr e com alunos da Oficina Permanente de Teatro agregando um Coro que coloquei na encenação denominado CORO CORPO VOZ, este integrado por elenco do Pesquisa Teatro Novo da UFSC realizamos , com direção qie assino,a leitura com esboços de personagens e todo clima cenográfico e sonoro ( o som é feito por atores vocalmente e o cenário, em grande parte, é ambientado pelo Grupo Coro Corpo Voz, que entre sons e imagens suscitam um Pântano.Há o recurso de vídeos que integram na Linguagem cênica e sonora.

Estamos neste momento vivendo o processo de encenação, e uma das maneiras que usualmente oriento atores e atrizes na Construção de suas Personagens é que respondam um questionário, que reinvento a partir da necessidade do Texto, mas que contenham elementos metodológicos sugeridos por Stanislavsky, Brecht (naquilo que ambos contribuem ao ator, atriz) e conforme a natureza do texto.Personagem outros teóricos podem segundo a natureza do texto, chegarem aos listados temas dos questionários, a saber dentre um amplo universo: Artaud,Barba, Meyerhold,Grotowski ou os derivativos do Constantin..assim segundo as necessidades.
Um dos temas que sempre pontuo com o elenco, é a sábia oirentação de Stanislavsky de
que o ator e a atriz façam uso de sua imaginanação mas sempre de uma maneira que ela VENHA AUXILIAR NA COMPOSIÇÃO DA PERSONAGEM , AFLORANDO AS CONTRADIÇÕES HUMANAS.

Ao meio do elenco , todo muito dedicado , temos escritores e escritoras.Resolvi homenagear em especial Lechuza Kinski e Antonieta Merces da Silva, publicando o
Questionário da Personagem MATTANORA, a sogra que vai ao casamento do filho vestida de noiva interpretado por Antonieta(ver fotografia)
Sempe ressaltando que a infância da personagem aqui narrada é do universo criativo da Atriz que uniu sua imaginação com elementos do Drama a fim de dar maior profundidade a criação de sua personagem.







ANTONIETA MERCÊS DA SILVA
Pequena biografia por ela mesma.

NATURALIDADE: GOVERNADOR CELSO RAMOS /SC, nasceu em CANTO DOS GANCHOS em 30 de outubro de 1948. Estado Civil: viúva/ mãe de quatro filhos e dois netos.

FORMAÇÃO: BACHAREL EM LETRAS PORTUGUÊS/ INSTITUTIÇÃO: UFSC— Universidade Federal de Santa Catarina/2007/2
Trabalho de Conclusão de Curso — Letras Português/UFSC: Título: Na voz do cantador: a permanência da brincadeira do boi-de-mamão na Fazenda da Armação - Ganchos/SC.
Orientadora: Dra.Tereza Virginia de Almeida.

TRABALHOS PUBLICADOS:
Poesias nos Livros: "A prosa e o verso do Pescador" Edição: 1989 /EDUFSC (VOLUMES: 1 e 2) Poesias premiadas nos Concursos da ACARPESC:

1º lugar 1986: poesia — A arte de Pescador
1º lugar 1987: poesia — Exaltação e Menção honrosa com as poesias: Menina do Mar e Minha terra

LIVROS:

1. QUANDO DESPENCA O PAMPEIRO — novela romanceada que narra, além das emoções vividas, as dificuldades que atravessavam os habitantes de uma pequena vila de pescadores artesanais de Santa Catarina, na segunda metade do século XIX.
Contemplado pela Lei de Incentivo à Cultura / FCC/ SC em 2004. Lançamento: 24.09.05 em Governador Celso Ramos.

2. SARAGAÇO romance de 102 páginas impregnadas de emoção, mistério e humor ao narrar, num jeito engraçado, entre idas e vindas ao tempo, às memórias de uma jovem/senhora que reencontra com a família, após uma ausência de 40 anos. Junto às expressões, ditados e palavras que resistem ao tempo, Saragaço apresenta, também, a variedade lingüística comprovando que a língua não é um objeto totalmente estático.Publicação: Editora LETRADÁGUA/ Joinville—2009
Lançamento: 17/10/2009 em Gov.Celso Ramos. Relançamento: 21/05/2010/Feira do Livro/ Largo da Alfândega / Fpolis.

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL:

Professora de Ensino Fundamental / Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina (aposentada) 1965-1991.

Membro do Conselho do NEA — Núcleo de Estudos Açorianos da UFSC/Universidade Federal de Santa Catarina. 2005—2008. e NEPOM/UFSC(2006/2007)

Diretora de Cultura /Prefeitura Municipal de Governador Celso Ramos.(2005-2008) e Diretora de Desenvolvimento Social — gestão ( 2009- 2012).

Iniciante da “Roda de História” de Gilka Girardello/ DAC/UFSC e aluna da: Oficina Permanente de Teatro/DAC/UFSC- Direção Carmem Fossari;
Atuação em: “Era uma vez no Pântano do Gatos” de Marina Carr/tradução de Alinne Fernandes (Queen´s University Belfast, Santander Universities Network)Direção : Carmen Fossari. DAC/UFSC


ERA UMA VEZ NO PANTANO DOS GATOS
OPT – Carmem Fossari, Montagem 2010

Questionário PERSONAGEM

Respondido por Antonieta Mercês


1. Nome: Elza Mattanora

2. Idade: 60 anos

3. Sexo: Feminino

4. Nascimento: Embora no registro de adoção conste “Pântano dos Gatos”, o verdadeiro local é ignorado, pois, na verdade, ela nasceu em um prostíbulo às margens de uma estrada meio que distanciada do Pântano.

5. Onde habita e com quem convive
Na vila: Pântano dos Gatos, com o filho Cartageno.

6. Idade da personagem: 60 anos.

7. Parentesco: Pais/adotivos: (Adalberto Willow e Helena Borges Willow. Marido: Eugênio Mattanora ( Todos falecidos).
Filho único: Carthageno Mattanora
Neta: (bastarda) Josiane Cisnéia

8. Dona de casa.

9. O CORPO DA PERSONAGEM: (há consonâncias e dissonâncias articuladas,ou, dissimuladas: “ Truco, truco, truco!” Um soar musicalizado) .
a) Postura: Uma mulher que, embora ao peso da idade, procura, quando se lembra disso, manter-se equilibrada passando à posteridade (filho/neta) essa condição, refletindo-se neles, ou, através deles: “Coluna retinha Carthageno!” “Senta direito Josiane, senão tu vás ficar corcunda...”

b) Respiração: Sua respiração é controlada por expressões, ora ofegante, por exemplo, quando nas discussões com a cigana, ora tranqüila, quando sente que conseguiu convencer: “Estou, não estou!” E, demonstra a mudança da respiração nos tratamentos, como, nas conversas provocantes com a neta, acelerando-a quando esta a desafia: “vovozinha” e Mattanora reage indignada: “ avó!” e, acalmando conforme vai se dando o desfecho e a neta cede “ao jogo”: “vem cá dá um beijo na avó!”

c) Expressões do corpo e facial:
. raiva — a rivalidade estampa-se em seu semblante. Por exemplo, fica “fula” de raiva quando a cigana atravessa em seu caminho e quase a agride diante do desdém desta. Os olhos fisgam a rival. Mattanora nunca aprovou a ligação do filho com Ester, a cigana;
. indignação/rivalidade — também, diante do tratamento “dona Mattanora” feito pela futura nora Caroline;
. nojo — (ação de cuspir) quando pronuncia o nome “cigana”. O “nojo” parece não estar unicamente ligado ao fato do filho manter por longos anos um amor por uma cigana e te uma filha como fruto desse amor, mas, incrustado em seu psiquismo, o “nojo” parece ir muito além. Ele se repete quando a personagem se dirige à mulher gato com relutância;

d) As articulações: Senta, levanta, articula-se sobre a mesa com indignação; puxa e repuxa o filho como a querer tirá-lo “das garras da Caroline- nora”;

e) E, o timbre da voz se altera e se multiplica nas ações: “adoraria lavá-la com uma mangueira, jogá-la no chão do estábulo, ligar a torneira no máximo e lavá-la até os rins.”
Abre-se um parêntese para se inferir que os elementos e objetos podem se vistos dessa forma: estábulo ( sujeira) mangueira (fálico), água (limpeza), rins(filtação/ purificação de si mesma.

As expressões se repetem quando Mattanora, em conversa com a neta, descreve uma infância além da exploração do trabalho e junta, à fala, o ritmo expresso através das ações de cortar/ puxar .... em que as mãos adquirem um certo ritmo ao descrever uma meninice (sete anos) de exploração, também, do trabalho infantil: “picava nabos 12 horas por dia....Estocava feno com um touro que eu puxava pelo focinho.

Como a personagem se veste:

Elegante, buscando sempre parecer mais jovem, o traje de Mattanora indica sua posição emocional:
a)Quando indignada, puxa pelo xale preto e sai desaforada. Por outro lado, gosta da cor branca como em busca da virgindade perdida muito cedo.
E é de branco que, ela chama a atenção para si, ao aparecer no casamento do filho vestida de noiva gerando o conflito que brota da impossibilidade de se modificar diante da nova situação que se estabelece - a de ser trocada por outra mulher.
Esse é um fator importante uma vez que o figurino se torna, talvez, mais importantes do que o próprio texto, pela mensagem que ele passa.

b) Formalidades/ hábitos:

Detesta que Caroline lembre sua condição de senhora: “dona Mattanora” e replica: “Elza, me chame de Elza”, não apenas pelo tratamento formal, mas, pela necessidade de sentir-se jovem;
E, no hábito do jogo (truco) trapaceia. O jogo/trapaça parece ser uma metáfora que se confunde em sua personalidade conturbada desde o ventre materno. E, as insinuações levantadas por Mônica em referência ao avô de Mattanora ter sido um cigano lhe confunde e a deixa irada. E, ela grita com todas as forças: “meu avô era um ferreiro viajante...”
Aí se dá o conflito. Na verdade a sua origem não muito esclarecida gera uma séria crise existencial. Aliás, o conflito se dá em outras cenas de disputa em que mede forças com as mulheres que se aproximam de seu filho, entre elas, a própria neta.( sensação angustiante da perda)

10. No momento da peça Mattanora ao “espiar” pela janela e ver a neta Josiane, à beira do pântano, cantando e brincando na neve (inverno) apenas trajada de pijama, parte para dar uma bronca na menina, extensiva à mãe — cigana. Em outra cena, ela já aparece para brincar com a neta, entrar na brincadeira/jogo, em que trapaceia. (Insinua-se uma troca de papéis como que em busca da infância perdida ou superação de uma infância que não teve).

11/ 12. Destaca-se a controvérsia da alegria ligada à tristeza, ou, frustração que se dá, por exemplo, no momento do casamento do filho: A maior alegria —posar (foto) de noiva ao lado do filho, se colocando no lugar de mulher deste e extravasando a alegria ao clamar a atenção ao sapato que ninguém tem igual (sentido: pisar); frustração — quando o filho acha absurda aquela atitude da mãe; tristeza — quando sente que está por perder o filho para outra mulher.

13. Em quase todas as cenas, o caráter subversivo da personagem, que apresenta uma irreverente e camuflada rebeldia, provocando imagens simultâneas de ódio e riso provocado por seus gestos e falas; por exemplo, quando contracena com a neta, com a mulher gato, com a cigana, não retrocedendo aos ataques, com o padre (lerdo despejando o cálice) o fato da raiva ao vê-lo sempre em companhia da mulher gato pode-se justificar como um possível complexo de electra. A interpretação vai além chegando a grau máximo de comunicação ao parodiar a crucificação de Cristo como um provável ataque aos dogmas estabelecidos pela igreja. Por outro lado, a cena em que ela (mãe) e ele (filho) se penduram, segundo sua versão, nas cruzes erigidas a Cristo e aos dois, um de cada lado a gritar: Calvário, Calvário, pode ser vista como a interação ritual que se estabelece quando os dois sexos têm que lidar um com o outro e trabalhar as diferenças. Ironicamente, a personagem, também, aponta o conservadorismo da igreja católica (celibato), ridiculariza o padre idoso e esclerosado que vive enfurnado no barraco imundo da mulher gato.

14. Emoções da personagem: apresenta atitudes antagônicas/contraditórias, talvez pelo fato de ver na neta o reflexo de sua própria gênese (bastarda).

15. PRIMEIRO ATO: Cena II e IV — Feliz/provocante/amável/enciumada (nos encontro e jogos com a neta)
SEGUNDO ATO: Feliz/provocante/enciumada/irônica/rancorosa/cruel (com todos que contracena).

16. A personagem mais contracena com: Josiane (neta), Cartageno (filho),Ester (cigana);
Menos contracena: Xavier, padre Willow, Caroline, Mulher Gato, Mônica.

17. Maria Carr “deu corda” e Mattanora, uma mulher um tanto fragilizada, torna-se uma mulher frente a si mesma, crescendo no texto, deixando de lado a passividade e assumindo uma atitude mais ativa. A personagem que, embora passe uma imagem dissimulante, tem os pés no chão e, com as asas da imaginação ela voa por cima da realidade subvertendo parâmetros e regras sociais.


18. As histórias não muito esclarecidas, com versões divergentes, ou, distorcidas sobre a origem da Personagem Elza (Mattatora) gera uma crise existencial com a qual tem que aprender a conviver.
Ajudando desde a mais tenra idade nos afazeres que vão além dos domésticos, incluindo-se a limpeza do estábulo onde havia algumas vacas leiteiras, Elza, nome que recebeu na pia batismal da capela do orfanato onde fora abandonada, pode ser filha (bastarda) do atual padre Willow que aos dezenove para vinte anos fora enviado como interno em um convento de padres em decorrência de sua relação amorosa com a jovem Elsie Hass não ser aceita pela família. Isso gerou um conflito intenso na pobre moça que, grávida, fora banida do lugar onde morava. Então, saiu e passou a viver à margem da sociedade até ser acolhida em um prostíbulo e passou a “esconder a barriga” o quanto pode. Contudo, quis o “destino” que Elsie viesse a falecer no cabaré, onde fora recolhida, após dar a luz à pequenina que, recebeu o nome de Elza, em homenagem à jovem mãe morta. A pequenina, um “estorvo” ao cabaré, fora largada como uma “trouxa” às portas de um orfanato aos cuidados das “irmãzinhas da caridade”, com um bilhete contendo o nome dado. O restante do parentesco permaneceu na obscuridade.
Criada, rigidamente e molestada sexualmente pela madre superiora passou a ser portadora de sentimentos reprimidos e aos seis anos idade consegue fugir escondendo-se em um velho carroção de ciganos que ali parou para vender artefatos de cozinha. A menina Elza viveu entre eles o tempo suficiente de aprender trapaças, como as do jogo de truco. Mais tarde, quando a caravana de carroções dos ciganos passam meio que por longe dos arredores do Pântano dos Gatos, um velho cigano negocia a troca da menina ‘trabalhadeirinha”por algumas libras. Mas uma vez, Elza é “largada ao Deus dará do destino!” Torna-se escrava do serviço doméstico na mais tenra idade sete anos, “cozinhando para os homens da casa, plantando...na fazenda)
O homem, não era o que aparentava — um bom artesão do ferro e cobre. Era mesmo um belo de um trapaceiro que vivia das falcatruas, vendendo cobre por ouro, o qual lhe deu a alcunha de Chico Orive (designativo de Eurive-ouro).
Fragilizada, portadora de sentimentos reprimidos, após duas décadas,enamorar-se de um belo moço que ali passou montado em um belo cavalo e foge com ele fixando moradia no Pântano dos Gatos. E, aos 30 anos tem o seu único filho que fica órfão de pai quando ainda era um menininho.

O resto da história, conheça assistindo:
Era uma vez no pântano dos Gatos

19. O prazer de interpretar Mattanora passa a ser maior, principalmente, após levantar as características, ficar conhecendo as razões de seus conflitos e entender que seus hábitos e padrões de pensamento estão irremediavelmente presos a antigas formas de comportamento. Com isso, justifica-se suas críticas à determinadas regras de comportamento humano.
Sua linguagem não é apenas um modo de representação do mundo; é, ao mesmo tempo, o mundo da representação. A personagem ironiza tudo que é considerado normal pela sociedade hipócrita e desvela o real como se fosse irreal, com forte ironia, intensificando bem suas neuroses e existe em função das palavras que pode trocar com as outras personagens como: com o padre, a cigana, a mulher gato.., representantes de uma ideologia ou cultura diferenciada fazendo com que ela traga na própria maneira de julgar a realidade social caracterize uma certa imagem do homem em si; ou, mais precisamente a imagem da linguagem que ele reflete passa a mostrar uma realidade impregnada de conflitos sociais e ideológicos. A personagem minimiza seu sofrer, deslocando as categorias do trágico ao cômico.

2 comentários:

Antonieta Mercês disse...

Obrigada, pela homenagem.
Estou aprendendo que no palco da vida o teatro deixa seu brilho tatuado porque o show tem sempre que continuar cantado em verso e prosa.
Pantaneiros, adiante!

marcia cattoi disse...

Parabéns Antonieta, sua personagem torna-se mais consistente e verdadeira cada vez que "olho" para ela. E sua atuação é i-m-p-a-g-á-v-e-l!Carmen, será inesquecível este pântano...